O massacre de Manchester é claramente uma péssima notícia que, por ser na Europa, teve honras de horas e horas nos noticiários. O massacre de 28 cristãos coptas no Egipto é uma muito má notícia, até pela repetição com que tais massacres acontecem. Mas a cegueira do ocidente dedicou-lhe uns poucos segundos. A maldade está em dar mais tempo que o devido a um acontecimento, e quase ignorar o outro.
Há um lado que pode ser positivo na maneira como são dadas as notícias: destacar a reacção popular e a vontade de maior união de esforços para evitar mais massacres. No caso do Egipto, o positivo é que aqueles cristãos, apesar de tantas perseguições e atrocidades que têm suportado, não desistem de exprimir a sua fé. Merecem o nosso apoio na oração e na ajuda fraterna.
Muito boa notícia foi a vinda do Papa ao Centenário das Aparições de Fátima, mais pelo que disse como mensagem para alimento da nossa caminhada de fé, do que como presença física cujos gestos também nos interpelam. A má notícia é que, das palavras do Papa, muito pouco se noticiou, sobretudo na imprensa escrita. E o silêncio que os peregrinos fizeram acompanhando o Papa no seu momento de recolhimento diante da Imagem da Senhora não foi respeitado nas televisões. Aquela gente pensa que as pessoas são incapazes de fazer silêncio e sentir-se bem nele. Por isso tentavam encher aqueles minutos com comentários e informações despropositadas para o que se estava a ver.
Da homilia na missa do dia 13 de Maio, chamou-me a atenção que o Papa tenha repetido por três vezes que temos uma Mãe; que tenha repetido por 4 vezes que Fátima é «um manto de luz que nos cobre», e tenha pronunciado a palavra esperança 11 vezes, pedindo na última que «não queiramos ser uma esperança abortada». Afirmou ainda que «A Virgem Maria não veio a Fátima para que a víssemos», porque para isso teremos toda a eternidade se entrarmos no céu. Fátima é sobretudo um manto de luz que nos cobre, aqui ou em qualquer outro recanto da Terra, quando nos refugiamos sob a protecção da Virgem Mãe para lhe pedirmos, como dizemos na Salvé Rainha: "Mostrai-nos Jesus"».
Porque temos uma Mãe, agarremo-nos a Ela como filhos e vivamos da esperança que se apoia em Jesus. «Como uma âncora, fixemos a nossa esperança naquela humanidade colocada no Céu à direita do Pai. Esta esperança seja o fermento da vida de todos nós. Uma esperança que nos sustém sempre até ao fim».
Deus «criou-nos como uma esperança para os outros, uma esperança real e realizável segundo o estado de vida de cada um». Só fiéis a ela poderemos operar uma mobilização geral «contra esta indiferença que nos regela o coração e agrava a nossa miopia. Não queremos ser uma esperança abortada!
A vida só pode sobreviver graças à generosidade de uma outra vida». Foi o que fez Cristo morrendo por nós. Então compreenderemos que, «quando temos de suportar uma cruz, Ele já a suportou primeiro. Por isso, não subimos à Cruz para encontrar Jesus. Foi Ele que se humilhou e desceu até à Cruz para nos encontrar e, em nós, vencer as trevas do mal e levar-nos para a Luz».
E o apelo final: «Sob a protecção de Maria, sejamos no mundo sentinelas da manhã que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e saibamos descobrir o rosto jovem e belo da Igreja, que resplandece quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica de amor».
Na Audiência Geral de 24 de Maio, dedicada ao tema da esperança, reforçou o que acabamos de dizer com palavras suas em Fátima: «A Igreja escuta as histórias de todos, como emergem do escrínio da consciência pessoal de cada um. Depois, oferece-lhes a Palavra de vida, o testemunho do amor, amor fiel até ao fim. E então, o coração das pessoas volta a arder de esperança».
Deus caminhará sempre connosco, em todos os momentos bons e maus da nossa vida. E aqui radica a nossa esperança. «Ele está ao nosso lado e caminha sempre connosco».
Autor: Carlos Nuno Vaz