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Fátima e os seus extremos

Nesse local rezavam o terço do rosário de joelhos ou de pé, deixavam esmolas e géneros alimentícios e cortavam ramos das azinheiras que levavam consigo. Foi necessário vendar a azinheira maior, aliás, acabaria por ser destruída.

Urgia haver alguém que recolhesse o dinheiro e outras dádivas. Uma boa mulher, a senhora Maria Carreira, resolveu recolher esses valores depois de ter falado com o pároco e começou a pensar numa pequena capela, como Nossa Senhora tinha pedido na última aparição. Pôs o problema ao pároco, o qual lhe respondeu: “Não quero saber disso para nada!”

Quando a recolha monetária permitiu construir algo, seu marido, sr. Manuel Carreira, foi encontrar-se com o pai da vidente Lúcia, dono do terreno, a pedir-lhe para autorizar a construção da capela. “Façam-na do tamanho que quiserem”, foi a resposta. Depois disso, contratou um pedreiro, que construiu uma pequena ermida. Depois de pronta, nenhum sacerdote se prontificou para benzê-la. Só mais tarde, é que o dr. Marques dos Santos (padre) a veio benzer.

Após isso, pensou-se na respetiva imagem. Foram feitas diligências e a execução foi confiada a um escultor. O trabalho foi realizado e a imagem foi entregue no dia 13 de maio de 1920. “Uma rapariguita duns 13 anos abeirou-se dela, chorando. Era a vidente Lúcia, que recordava os seus amiguinhos, Francisco e Jacinta, que no céu se extasiavam na presença real da branca Senhora.” Já ambos tinham partido para a eternidade.

Os primeiros tempos foram muito atribulados, sobretudo devido à oposição ferrenha das autoridades civis, desde o administrador de Vila Nova de Ourém até às autoridades governamentais, incluindo o ministro do Interior. Este interveio e deu ordens para acabar com o fenómeno religioso. Professando a maçonaria e anticlericalismo não suportavam que se levantasse um novo polo de religião. Instigados por essa oficial oposição, surgiram grupos que organizaram paródias a ridicularizarem as aparições. 

O extremismo atingiu o auge com a destruição da pequena capela. Usando explosivos fizeram-na explodir, e, no fim, chegaram-lhe fogo, restando apenas pedras e cacos. Aconteceu em fevereiro de 1922.

Esta oposição abespinhada contra Fátima acabou por falir, porque a base das aparições era sólida e autêntica, como afirmava monsenhor Luciano Guerra, ex-reitor de Fátima: “Não tenho qualquer dúvida, porque este fenómeno foi autêntico e eu creio que divino. As coisas autênticas perduram”.

Joaquim Barbeiro, o construtor da 1.ª ermida, afirmava, dirigindo-se a uma senhora: “Não se apoquente, mulher, se esta obra for obra de Deus, como nós pensamos, o sofrimento está no princípio”.

Uma das razões da afluência crescente de devotos deveu-se às graças obtidas. Foram relatados vários casos, nomeadamente de doenças graves.

A Igreja, que esteve afastada do fenómeno religioso, acabou por ceder, porque ele possuía bases sólidas que lhe vinham da sua autenticidade. A primeira visita do bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, verificou-se no dia 12 de outubro de 1926. Ele tinha declarado que o fenómeno religioso de Fátima não era indiferente à sua ação pastoral. Para isso nomeou uma comissão que estudasse o assunto. Em outubro de 1930 publicou uma pastoral em que afirmava: 

1.º – declarar como dignas de crédito as visões dos pastorinhos na Cova da Iria, freguesia de Fátima, desta diocese, nos dias 13 de maio a outubro de 1917.

2.º – permitir, oficialmente, o culto de Nossa Senhora de Fátima.

A partir dessa data, Fátima tem sido local amado, exaltado e bendito por todos os Sumos Pontífices da Igreja Católica, começando por Pio XII até ao Papa atual, Francisco.

Fátima acabou por ser uma luta entre a luz e as trevas, a verdade e a falsidade, e dela saiu vitoriosa.

 

Autor: Manuel Fonseca
DM

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27 maio 2017