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Fátima, cem anos cada vez mais próximos

Esta resposta, se manifesta ignorância surrealista, demonstra uma realidade que muitos de nós não gostamos de reconhecer. O nosso país é uma terra muito pouco relevante para a maioria dos cidadãos do mundo, ainda que possamos contrapor uma história recheada de eventos notáveis. Estes, porém, ou se desconhecem, ou não são devidamente valorizados. É injusto?

As coisas, como costuma dizer-se, são como são. E, muito à maneira lusitana, Portugal é colocado aqui, neste juízo sui generis dum sujeito do “Novo Mundo”, num lugar ínfimo na relevância da sua realidade, sendo preterido ou colocado ao lado duma pequena terra que é sua e se torna muito mais significativa do que a própria pátria a que pertence.

Efectivamente, Fátima foi uma prenda de valor incomensurável para Portugal que aqui deixou Nossa Senhora, Mãe de Jesus, ainda que esta afirmação possa irritar muita gente. E isto pelo facto de ter dialogado com três crianças muito simples e sem ambições de popularidade. Nada fizeram para que o mundo as viesse a conhecer e admirar.

Antes pelo contrário: sofreram muito com esta intromissão da Virgem Santíssima na sua existência. Às duas mais novas, nem sequer lhes deixou muito tempo de vida para serem vistas, revistas e aplaudidas pelas enormes multidões que passaram a visitar com piedade a Cova da Iria. E à mais velha, indicou-lhe uma vocação de recolhimento, que ela viveu de forma exemplar, primeiro em Espanha, como religiosa doroteia e, mais tarde, em Coimbra até à sua morte, como carmelita.

Voltando ao presente que Santa Maria ofereceu a Portugal. As autoridades turísticas nacionais tiveram muito trabalho em transformar Fátima num local onde, anualmente, acorrem milhões de estrangeiros e de patrícios (digamos, turistas religiosos), que vêm a Portugal, ou se deslocam dentro do país desde “longes terras” em árduas caminhadas, expressamente para se encontrarem com tudo o que lhes fornece de carinho, amor, compreensão, convite à oração, exigência e também sacrifício esse lugar que, antes de 1917, era completamente ignorado quer na terra lusitana, quer em qualquer outra parte do nosso planeta?

Certamente que esta dádiva de Nossa Senhora não teve por principal, nem sequer ultra-secundário objectivo, fomentar o turismo em Portugal. Para esse fim, não teria recorrido como seus porta-vozes, à Lúcia, ao Francisco e à Jacinta, pois não saberiam convencer ninguém das motivações credíveis para se deslocarem até Fátima.

A razão é totalmente diferente. O que as crianças nos disseram, através do que Maria lhes confiou, foi que o homem não pode esquecer-se de que é criatura de Deus, a quem Deus reserva um futuro de plena felicidade – o Céu –, para o qual o criou.

Para tanto, deve reconhecer as suas limitações, as suas infidelidades, saber pedir perdão, saber desculpar os outros e com eles conviver fraternalmente como filho do próprio Deus, criado à sua imagem e semelhança. E é nesta linha que os cem anos das Aparições nos deverão levar até à Cova da Iria no ano do centenário.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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22 janeiro 2017