Tudo indica que a Assembleia da República se prepara para discutir a legalização da eutanásia… Mas à semelhança de outros acontecimentos mais ou menos recentes, não podemos esperar que a discussão seja séria. A legalização da eutanásia conduz a um caminho perigoso, pois, como por vezes já ouvimos, há quem defenda, diante dos custos crescentes da saúde, que a medicina deveria suspender os tratamentos mais onerosos a alguns indivíduos – por exemplo, começando pelos idosos, doentes incuráveis, etc. – concedendo-lhes o “falso benefício” de uma morte abreviada…
Não há dúvida de que numa sociedade onde, muitas vezes, se atropelam os outros pela ganância e corrupção, tudo pode servir de motivação. E por detrás desta aparente morte misericordiosa, corremos o risco de poderem estar interesses economicistas, pois ao Estado interessa ver-se livre destes encargos de saúde que considera inúteis.
Outro argumento utilizado para a legalização da eutanásia, que não passa de uma falsidade ridícula, é o de que estas pessoas têm direito a uma morte digna, como se a morte daqueles que decidem de forma corajosa enfrentar os inúmeros sofrimentos e provações que a doença lhes acarreta, fosse uma morte indigna… antes pelo contrário! São heróis e heroínas!
É bom ter presente que os defensores da eutanásia partem do pressuposto errado de que a vida humana não tem sempre o mesmo valor, uma vez que se encontra afetada pelo sofrimento, associado a uma doença incurável que a torna indigna e prescindível…
É lamentável que esta mesma justificação tenha sido utilizada pelos nazis, já há muitos anos atrás, para aplicarem o seu programa de eugenismo e eutanásia, durante o qual os médicos nazis assassinaram muitos milhares de doentes considerados como “incuráveis”.
Fica claro que a eutanásia contradiz a própria ética médica, porque se opõe ao grave dever do médico de permanecer ao lado da vida, respeitando-a e procurando preservá-la em todas as situações. A eutanásia é, de verdade, uma compaixão falsificada… As súplicas dos doentes graves que pedem a morte são, na maioria dos casos, pedidos de ajuda, de afeto, de carinho e de solidariedade. Necessitam do apoio humano e espiritual adequado ao momento de provação. É petição de ajuda para continuar a esperar, quando todas as esperanças humanas se desvanecem, exceto a de que “a vida humana não se acaba, apenas se transforma”…
Para um correto juízo moral sobre a eutanásia é necessário, antes de mais, defini-la com clareza. Por eutanásia, em sentido verdadeiro e próprio, deve entender-se como uma ação ou uma omissão que por sua natureza e na intenção causa a morte, com o fim de eliminar qualquer dor…
S. João Paulo II, diz: «Feitas estas distinções, de acordo com o Magistério dos meus Predecessores, e em comunhão com os Bispos da Igreja Católica, confirmo que a eutanásia é uma grave violação da Lei de Deus, enquanto eliminação deliberada e moralmente inaceitável, de uma pessoa humana».
Assim, é por demais evidente que a eutanásia deve considerar-se como uma falsa piedade, mais ainda, como uma preocupante perversão da mesma. Não resta qualquer dúvida de que a verdadeira, a genuína compaixão nos torna solidários com a dor dos demais e não elimina a pessoa cujo sofrimento é difícil suportar.
Depois de uma análise clarividente e detalhada, o Papa João Paulo II demonstrou estar esperançado na vitória da “cultura da vida”, sobre a “cultura da morte”. E concluiu: «Não faltam sinais que já antecipam essa vitória nas nossas sociedades e culturas»…
Autor: Maria Helena H. Marques