Acarismática “Volta a Portugal” em bicicleta tem gerado uma frenética presença de adeptos desta modalidade desportiva, estimulando e aplaudindo os ciclistas, num evento outrora garrido de clubismo, com incidência para a disputa entre Benfica, Sporting e FC Porto, na conquista do “troféu” desta prova que já conheceu dias melhores.
A cidade de Braga, com a 8.ª etapa da 80.ª Volta a Portugal, fez parte de um rol de localidades com o “estatuto” de meta, envolvendo a autarquia no preparo adequado às exigências procedimentais e no rigoroso cumprimento normativo em obediência às estratégias de segurança de todas as partes, compostas pelos atletas, pela logística e pelo público espectador.
Obviamente, os custos foram os incómodos sentidos no quotidiano daqueles que precisaram do espaço viário para circular, procurando alternativas, como também foi mais difícil estacionar devido ao condicionamento de trânsito e à proibição de aparcamento nas artérias disponíveis para a realização da prova.
Com um pouco de paciência e compreensão, os prós e contras aliaram-se na boa paz, deram as mãos e perceberam o cenário de festa que a “Volta a Portugal”, mesmo desencantada para uns e de glória para outros, proporciona à cidade ou vila que a acolhe, promovendo o turismo, elevando o nome de Braga na comunicação social, fortalecendo a economia local nos setores do comércio e na hotelaria e incrementando outra dinâmica à vida urbana.
O grande pressuposto aloca-se ao custo patrocinador na ordem das dezenas de milhares de euros subtraídos ao cofre do erário municipal, como pagamento pela passagem, chegada ou partida da principal prova de ciclismo realizada em Portugal.
Braga não será exceção, mas é do domínio público que as autarquias de Setúbal e de Fafe vão endossar um cheque de aproximadamente 200 mil euros como pagamento da receção de uma das etapas da Volta a Portugal, nestas cidades.
Presume-se que os municípios listados pela presença desta prova desportiva desembolsem aproximadamente 2 milhões de euros de um potencial bolo de 4 milhões de despesa, havendo ventos de cumplicidade propícios ao chamariz de promessas políticas ou alegadas vontades de alguns autarcas, que confundem parcerias institucionais com o uso das finanças autárquicas como reduto possível junto da organização da “Volta a Portugal” em levar todo este cenário alegórico, algumas vezes parte integrante do cartaz das festas da cidade, feiras anuais ou outros espaços de animação que sejam paralelos com a boa-vinda da atividade desportiva de ciclismo com cariz nacional e internacional.
Se no passado este “namoro” consistente e profundamente íntimo das autarquias envolvidas em “subsidiarem” com centenas de milhares de euros a passagem da Volta a Portugal era praticamente nulo, teme-se com este círculo vicioso que a prova de ciclismo no futuro possa conceber a ideia de uma tabela de preços formulados para satisfazer as comunidades residentes em dar largas de alegria e de apoio aos atletas que fazem parte desta modalidade desportiva.
É unânime a apreciação dos cidadãos sobre a passagem da Volta a Portugal em ciclismo pela sua terra. Contudo, é um risco usar o dinheiro público como uma ferramenta de cativação local, quando é sobejamente conhecido que há problemas de índole social, económico, apoio habitacional e educativo no epicentro das responsabilidades de certos municípios que desperdiçam dinheiro com iniciativas supérfluas em detrimento das dificuldades dos seus cidadãos residentes e das carências concelhias.
Autor: Albino Gonçalves
Euros pela Volta…
DM
13 agosto 2018