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“Eu é que sou o presidente”

Passados 15 dias responde o autarca à PC: «Temos a comunicar que a manifestação sísmica foi proibida; o epicentro foi cercado pelos bombeiros cá da terra e o Richter detido pelos nossos escuteiros para averiguações. Desculpem o atraso porque, entretanto, houve aqui um tremor de terra dos diachos».

Ora, nas nossas freguesias ainda continua a existir gente a comandar os seus destinos iletrada, desabilitada e impreparada para assumir a presidência de uma junta. Servindo-se dos assessores e das secretárias para lidarem com a presidência. Muitas vezes desconhecedores dos meios informáticos – portanto incapazes de saberem ler e responder a um “e-mail”, quanto mais de interpretarem uma lei. Alguns dos quais sem sequer terem noções suficientes de português para redigirem um ofício, editarem um aviso ou comunicado, elaborarem ou proferirem um discurso escorreito. Comportando-se, ainda, como nos tempos da política de chapéu na mão, ao estilo do caciquismo local, subservientes e bajuladores do Edil-mor da C.M. (Câmara Municipal).

Ora, é provável que hajam muitos, como eu, a pensar que deveriam ser exigidos alguns predicados que condicionassem o acesso de gente iletrada, desabilitada e sem qualificação à presidência das juntas de freguesia do nosso país. Isto, em consonância com as exigências atuais para acesso a qualquer emprego a rondarem, já, o ensino superior, bem como o domínio de uma ou mais línguas. Acabando com certas figuras “labr egas” à frente da governação, ainda que de uma pequena freguesia. Só assim, sairíamos da cauda da Europa em termos civilizacionais. No entanto, se as coisas têm melhorado, nesse aspeto, noutro ainda pioraram. 

É que tendo nós imensos doutores e engenheiros a presidirem às Autarquias locais, o que se deveria traduzir em mais-valia democrática; melhor gestão pública livre de ignorância, melhor apreço pelo que as terras encerram; com outros métodos de atuação nos respetivos mandatos conferidos pelo povo, o que vemos? Que, afinal, o sistema não só se manteve com as práticas herdadas como, em alguns casos, retrocedeu. Pois se há gente mais cursada nestes cargos, ela também se tem tornado expedita em muitos aspetos, sobretudo financeiros. Ou seja, paralelamente às habilitações literárias adquiriram, nas escolas partidárias, o alto tirocínio em solércia, sempre de olhos postos nas mais-valias dos negócios que as Autarquias vão gerando. Dado que a ambição é extrema e a palavra de ordem o “enriquecer depressa”.

Mas não se pense que tal acontece só nas aldeias. Há cidades onde o presidente para, se manter à frente da sua C.M. opta por usar as fotocópias dos livros compilados pelo Edil anterior, a que lhes vai acrescentando festarolas e dinamizações a nível gastronómico todo o ano. Tratando os munícipes como macegas e inscientes, indignos de ousarem formular qualquer crítica, só porque acha que o seu doutoramento (?) lhe confere o direito de se tornar um ser supremo, impoluto e intocável.   

É por isso que todos nós, portugueses, deveríamos prestar mais atenção sobre quem exerce o cargo de “presidente” – seja ele de Junta ou de C.M. – como a de ver cumprido, pelo menos, 75% do programa que o elegeu. A não ser assim, perante o falhanço em termos dos objetivos assumidos, só a penalização nas urnas impedirá que qualquer Edil, no quadriénio seguinte, se venha a tornar prepotente nos argumentos aos que lhe manifestarem opinião contrária, como o seguinte: “eu é que sou o presidente! Portanto, calem-se e não digam palermices”.


Autor: Narciso Mendes
DM

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13 março 2017