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Eu, Daniel

Entretanto, esbarra na extrema burocracia, amplificada pelo facto de ter dificuldades em se orientar na internet. Numa de suas várias idas à Segurança Social, ele conhece Katie, a mãe que cuida sozinha de duas crianças e se mudou recentemente para a cidade e também não possui condições financeiras para se manter. Após defendê-la das exigências burocráticas, Daniel Blake aproxima-se dela e passa a ajudá-la.

Ao longo do filme, vamos sendo cativados por estas personagens tão próximas da nossa realidade, a quem a vida se vai complicando cada vez mais. Katie diz que não aguenta e a verdade é que ela chega a passar fome. A filha dela conta que na Escola as suas colegas a gozam por que os seus sapatos se estão a desfazer. O irmão mais novo perturba toda a gente com o barulho que faz, como quem denuncia a dureza em que a sua vida familiar caiu. Por fim, Daniel: ele passa o filme todo a lutar contra esta maré tão adversa que sobre eles se abateu. 

Esta realidade da pobreza aqui tratada é tão cruel e tão, tão conhecida por tantos em Portugal, que não temos o direito de ficar indiferentes. É, portanto, um filme incómodo que nos deixa a pensar por causa da dureza de vida em que muitos de nós são apanhados. Escreveu Graça Dias: “uma cidade democrática, uma cidade onde os pobres e os ricos – as pessoas, todas as pessoas –, sejam tratados com igual respeito, terá que dar, fornecer, possibilitar: cuidados de saúde, escolaridade, emprego, transportes colectivos e acesso à cultura, bem como habitação decente, a todos os seus habitantes.”

O desemprego

Qualquer política dos nossos dias tem que ter o drama do desemprego como prioridade. E ao desemprego junta-se a pobreza. E à pobreza a fome. Dados recentes do INE dão conta da dimensão do problema em Portugal: um quarto da população, cerca de 2,6 milhões de pessoas, está em risco de pobreza ou exclusão social! As famílias com crianças continuam a registar um risco de pobreza mais elevado do que os restantes grupos. “Desenvolvimento é o novo nome da paz” escreveu Paulo VI. E nota-se a perspicácia desta bela afirmação. No filme, Daniel trabalhou como marceneiro durante a maior parte da sua vida. Agora, e pela primeira vez, precisa de ajuda do Estado. Portanto, ele é um cidadão que contribuiu toda a sua vida para que a sua cidade fosse próspera e feliz. Pagou as suas obrigações e é uma pessoa honesta. Há, então, uma crueza nesta história que sublinha a injustiça que atinge estas quatro pessoas e contra a qual temos de lutar. 

 É certo que em Portugal o desemprego vem a baixar e ainda bem! Mas, com outras políticas poderia estar a descer ainda mais. Quando o Governo não resolve a situação da banca (Caixa e Novo Banco), não apoia o investimento (desceu 25%) e tem as taxas de juro acima dos 4%, os números do emprego até nos admiram. Não haverá despesa por pagar? A verdade é que com um Governo competente e não com a extrema-esquerda, a situação do emprego de pessoas como Daniel podia ser bem melhor.


Autor: N. Oliveira Dias
DM

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9 fevereiro 2017