É óbvio que as férias fazem bem.
Mas, pela amostra, as férias deste ano deixaram muita gente com um ar não muito bom.
Parece que as pessoas regressaram indispostas, insatisfeitas, com tendência para um discurso sombrio e o rosto fechado.
Tem sido mesmo frequente – neste período pós-estival – deparar com pessoas agressivas, pouco polidas, alteradas, com a voz num patamar mais alto que a razão.
Mal sorriem e raramente cumprimentam ou saúdam. As estradas assemelham-se a um concerto de buzinadelas.
Dá a impressão de que a paciência se esgota logo ao acordar. Os condutores não se aquietam enquanto não ultrapassam outros condutores. Não se tolera uma falha nem se admite uma condução mais pausada.
Como é possível que o efeito do descanso se tenha dissipado tão depressa?
Mas, afinal, será que descansamos mesmo?
Descodificando o conceito, «descanso» é o que «não cansa». O mesmo lugar cansa, a mesma actividade cansa. Mas será só isso que cansa?
Será que o mesmo comportamento também não cansa? É sintomático notar que, nas férias, as pessoas também andam apressadas, também frequentam espaços ruidosos.
Nem sequer percebemos que «descanso» é sinónimo de «repouso». Acontece que, hoje em dia, nem sequer «pousamos». Tornamo-nos uns «híperactivos» (permanentemente) insatisfeitos.
Andamos de um lado para o outro, amestrados pelas «promoções-standard» de operadores turísticos. Encontramos todos os lugares da terra, mas dificilmente nos (re)encontramos a nós.
A cada passo, somos surpreendidos por visitantes que discutem com (quase) todos e reclamam de (quase) tudo.
Longe vai o tempo em que mostrávamos gratidão pelo pouco que nos era dado. Agora, prevalece a revolta por qualquer coisa que não conseguimos conquistar.
A quantas pessoas dizemos «obrigado»? A quantas pessoas sinalizamos gratidão e reconhecimento?
Os outros só aparentam ter deveres. O mundo tem de girar à nossa volta e à hora que nos apetece. É preocupante. Mesmo a viajar, mesmo a correr, somos muito sedentários, andamos muito sentados: muito «sentados» em nós.
O pior é que a nossa pulsão «egolátrica» não conhece limites. Quando as coisas não são como nos apraz, gritamos, vociferemos, ferimos, agredimos e nem sequer nos inibimos de matar.
As relações humanas precisam de ser restauradas. A ir como vamos, não chegaremos muito longe. Mas, para mudar, temos de entender que nós não somos nós (apenas) em nós.
Só Deus nos plenifica e felicita. Só quando repousarmos n’Ele é que (re)descobriremos o que se mantém encoberto para muitos: o sentido da vida.
Não marginalizemos Deus e outra vida teremos: muito mais feliz!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira