Ohomem, movido, muitas vezes, por um falso orgulho intelectual, julga-se omnipotente e senhor do mundo que o rodeia. No entanto, com esta atitude megalómana, entra numa espiral de envaidecimento que o vai transformar num endeusamento balofo, levando-o a cometer as maiores atrocidades, sem o mínimo respeito pela dignidade dos outros. A sua ânsia pelas grandezas cegam-no irremediavelmente.
As tendências desmesuradas não conhecem limites, dando origem a tendências animalescas. O homem esquece facilmente que a sua efemeridade o irá dominar em pouco tempo. Em que enganos andam tantos homens durante a sua curta existência terrena! A sua inteligência, assim despida de uma real racionalidade, engana-os no seu dia a dia.
Estas ideologias não são exclusivas dos grandes ditadores, mas aparecem em muita boa gente que, a coberto da democracia, lá vá impondo as suas teorias imbuídas de um cariz prepotente. Em muitos estados democráticos, desenvolvem-se, com frequência, as chamadas “ditaduras”, tanto das maiorias, como das minorias. Tudo o que de mal (aos seus olhos!) se faz é atribuído aos adversários ou àqueles que não seguem as suas ideias.
Por isso, dizem eles, há que silenciá-los e fazer passar para o comum dos mortais que apenas eles e só eles é que defendem os seus direitos. Urge calá-los e rejeitá-los como inimigos do progresso e do bem-estar geral. Em muitos dos defensores destas causas prepotentes, nomeadamente em governações laicas, até se confundem os conceitos e as correspondentes atitudes.
Quando alguém responsável pelos serviços públicos, perante ambientes eivados de uma certa anarquia, recomenda regras de deontologia profissional, ou de urbanidade, de decência, de decoro ou de recato aos subalternos durante o desempenho das suas funções, logo se levantam esses moralistas, dizendo que se está a ferir os ditos princípios laicos. E acrescentam que tais normas são próprias de colégios religiosos! Nos serviços públicos, tais regras não são admissíveis, afirmam eles.
Recorde-se e volto a atestar que essas orientações acima referidas não são de inspiração confessional, nem são próprias de ideologias específicas da Transcendência. Pelo contrário, são puramente humanas, de cariz social e, portanto, exigidas pela dignidade humana. Que hipocrisia! Que confusão! Ou que maldade?
Num Estado laico tem que haver regras de convivência social e de respeito para todos. Será que os utentes dos serviços públicos não terão direito a ser respeitados pelos servidores da função pública em toda a sua integridade ética e cívica? Não bastará a promiscuidade escandalosa (e muitas vezes, até uma linguagem de puro calão) que reina em tantos serviços e que escandalizam as pessoas?
Será que o Estado laico e os princípios do decoro serão incompatíveis? Sejamos sensatos, coerentes e sérios nas nossas atitudes. Quem quiser melhorar os seus condicionalismos externos tem de começar por aperfeiçoar os internos. Que valores defendemos em regimes democráticos?
Perante esta situação, cada um de nós deve fazer uma análise conscienciosa das suas atitudes. Desta reflexão seletiva sairá a verdadeira filosofia de vida. Infelizmente, perdeu-se a noção de valores e estes sofreram uma alteração para pior ou mesmo para desvalores e antivalores.
As pessoas mostram mais negligência pelas suas responsabilidades para consigo e para com a sociedade, vivendo ao sabor das ondas e sem qualquer tipo de personalidade bem formada, sendo uns títeres dos outros e das conveniências momentâneas. Tudo isto rebaixa e adultera os valores universais e perenes que sempre guiaram o homem na sua vida na terra.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes