NORTADA (s.f., de norte + suf.ada) - vento áspero, forte e frio que sopra do norte e noroeste, em Portugal - Dicionários de Língua Portuguesa.
Quando em setembro de 2009, encerrada foi a série semanal, POSTAIS D 'ARCADA que atingiu a bonita soma de 1000 postais, lançada em 1986, neste jornal, iniciei as NORTADAS que já levam 10 anos de existência; e não foi a pensar no tal fenómeno meteorológico tão vulgar no nosso país, mas, em sentido figurado, aplicar o conceito à vida nacional, nas suas variadas vertentes, mormente política, económica e social, sempre que se apresentem prejudiciais e escamoteadoras para o nosso povo.
Todavia, a NORTADA de hoje, dado a estado do tempo que nos assiste, que tal como a tradição já não é o que era, motivo é de preocupação pela ameaça que representa para a sustentabilidade do planeta; mas difícil é fazer passar esta mensagem, como igualmente difícil é explicar a um estrangeiro o significado da palavra saudade que, por ser abstrata, não se vê, nem se apalpa, logo mais dificulta a sua explicação sociológica.
Anthímio de Azevedo, meteorologista atento e futurista, nas suas apreciações e explicações climáticas na televisão, habituou-nos, noutros tempos, à ideia que frequentemente passava, de que o clima do país estava a mudar; e, assim, num futuro não muito distante, iríamos começar a sofrer as influências dos desertos de África e de sul para norte, sobretudo com verões escaldantes e invernos rigorosamente frios e nevosos.
Ora, já começamos efetivamente a assistir ao fim das antigas quatro estações do ano (primavera, verão, outono e inverno) que aprendemos na escola e definiam claramente o clima do país; pois, deste modo, já vamos assistindo ao prolongamento do verão pelo outono com os meses de setembro, outubro e novembro demasiado quentes, como o inverno a invadir os meses de abril, maio e junho.
Assim sendo, vamos dizendo adeus às primaveras suaves, luminosas, equilibradas e serenas, como aos outonos com manhãs claras, amenas e resplandecentes de luz, cheiros e cores; e inevitavelmente caminhamos, a passos largos, para um clima onde pontificam as duas estações apenas; verão e inverno.
Pois bem, daqui resultam fenómenos atmosféricos a que não estávamos habituados de chuvas abundantes e violentas acompanhadas de temporais e, até, de frequentes e devastadores ciclones, tornados e terramotos; como a inclemência de sóis escaldantes e secas constantes e prolongadas que provocam incêndios destruidores de pessoas e bens e danificando ou destruindo culturas, como ultimamente tem acontecido um pouco por todo o país.
Claramente a nossa cidade que, noutros tempos, era de clima aprazível, embora com chuva abundante, mas no tempo certo e daí o apelido carinhoso de peniquinho do céu, transforma-se lentamente num espaço de calor insuportável, como de frio glaciar, obrigando-nos a mudar radicalmente o estilo de vida e adaptação climática; e, assim, Braga aparece já como uma cidade das mais quentes como igualmente das mais frias do país.
Mas, então, será que este fenómeno é, apenas, fruto da natureza e suas derivações ou o homem tem, conjuntamente com ela, responsabilidades nestas transformações ambientais e climáticas? Obviamente que todos nós somos de algum modo mais ou menos responsáveis pelo que acontece, basta pensarmos no mau e displicente uso que fazemos dos recursos naturais postos à nossa disposição.
Por exemplo, a poluição é um dos males que atualmente mais preocupa os ambientalistas e os defensores do equilíbrio ecológico sustentável; e, daqui, resulta a maior ameaça para os terráqueos de que, se não recuarem na sua ação nefasta sobre o planeta, não haverá mais futuro para eles e para seus filhos e netos no Planeta Azul.
Depois, a água como o mais necessário e precioso bem para a vida na Terra, devido aos frequentes períodos de secas prolongadas, consequência evidente das transformações climáticas e do mau uso e desperdício que dela fazemos, começa a escassear; e, num futuro bem próximo, pode desencadear-se entre os povos a terceira guerra mundial pela sua posse e utilização.
Agora, perante tamanha ameaça à nossa sobrevivência na Terra, devemos tomar consciência plena destas realidades, como, por exemplo, a de que, segundo estatísticas recentes, os portugueses gastam em média 187 litros de água por dia, correspondendo o consumo doméstico por pessoa a 124 litros diários o que é um exagerado e perdulário consumo; e, pensando na poluição que alastra e se toma um verdadeiro flagelo para a saúde de todos nós, sendo as doenças respiratórias as mais mortíferas num futuro próximo, é tempo de tomarmos consciência destas verdades e delas fazermos o principal motivo educativo das novas gerações.
E isto para declaradamente garantirmos um lugar certo e seguro no nosso planeta e não sermos obrigados a emigrar para outros mundos e outros sóis, e onde seguramente não sabemos se nos é permitida a adaptação, a sobrevivência, a felicidade e consequentemente a própria vida.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
Estado do tempo
DM
15 maio 2019