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Esquerdas e direitas

A classificação política de «esquerda» e «direita» nasceu, como é sabido, na Revolução Francesa, em cuja Assembleia as forças conservadoras se sentavam à direita da presidência e as forças revolucionárias à esquerda. Duzentos e vinte e tal anos depois, as ideias e princípios defendidos pela «direita» de então desapareceram, por obsolescência, do espectro político europeu; ao passo que as ideias e princípios da então «esquerda» são hoje património político-cultural das correntes que, actualmente, são denominadas de «direita»: a defesa da liberdade (tanto da nossa quanto a dos outros), a prática da igualdade de todos perante a lei (sem que uns sejam mais «iguais» que outros ), o culto da fraternidade (traduzido na protecção dos pobres, velhos, crianças, família, em resumo solidariedade social de inspiração cristã). Tudo isto torna desactualizada (para não dizer inútil) a classificação clássica de «esquerda» e «direita». Porque os valores que há duzentos anos eram a moral da «esquerda» são hoje doutrina corrente na chamada «direita». Se quisermos manter esta terminologia política, que tão arreigada está nos nossos usos linguísticos, deveremos re-definir os conceitos segundo as suas teorias e as suas «praxis» actuais – e que já nada têm a ver com o seu sentido original. Duas são as linhas – paralelas e sobreponíveis – que, em meu entender, actualmente separam as impropriamente chamadas «esquerdas» das impropriamente chamadas «direitas». A primeira linha diz respeito à liberdade de pensamento (que inclue uma ética e uma estética individuais). A «direita» defende os seus valores, reivindica o direito de os praticar e reconhece à «esquerda» o direito de defender e praticar os dela. Vive e deixa viver. A «esquerda» defende igualmente os seus valores, igualmente reivindica o direito de os praticar e pretende, a todo o custo, impô-los aos outros. Rotula quem os não aceita de «inculto», «incivilizado», «retrógrado», ou mesmo «fascista» e outros mimos, numa total falta de respeito pelo pensamento alheio – o que é, isso sim, muito pouco civilizado. Para a «esquerda» actual, a liberdade de pensamento é um privilégio seu. A outra linha diz respeito à justiça social. Neste campo, as duas posições podem resumir-se assim: para a «direita» justiça social é amor aos pobres; para a «esquerda» é ódio aos ricos. Os primeiros querem acabar com a pobreza enquanto os últimos querem acabar com a riqueza E então, sim, quando esta acabar, seremos todos rigorosa e finalmente iguais – na pobreza. Todas as outras diferenças nascem destas duas linhas vermelhas. Nota: por decisão do autor, este texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico
Autor: M. Moura Pacheco
DM

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7 novembro 2018