Foi há dias dado ao prelo a inauguração das obras de requalificação e ampliação da escola EB1 de Gualtar; obras levadas, meritoriamente e a seu encargo, pelo executivo municipal. Inauguração com pompa e circunstância o que nenhum mal tem, pelo contrário. Há dias, também, fomos confrontados com uma espécie de sobressalto cívico de alguns grupos de Bracarenses com a anunciada alienação da “Confiança” que, ano após ano, se degrada.
Vêm estes dois acontecimentos da polisa propósito, aparentemente sem ligação ou desconexos entre si, para dar voz – já havia denunciado há um ano em outros fóruns sem eco nos responsáveis – ao inusitado e triste desleixo a que foi votado um dos marcos educacionais, culturais e patrimoniais da freguesia de Gualtar a dois passos – o que mais espanta ao aqui escriva – do centro autárquico daquela.
São ervas daninhas, são vidros partidos ou ausência destes, são telhas quebradas ou a sua ausência e sabe-se lá mais o quê no interior do edifício; é mister dar um grito de alerta e revolta para o que, há anos, se revela com o espaço físico do que foi a dita de “Escola Velha”, descativada e, dizemos nós, entretanto desqualificada.
Diz-nos o Autor Paleólogo Pereira na assinalável obra “A Gesta de Gualtar” que foi nesta escola que os Gualtarenses mais velhos aprenderam as primeiras letras e fizeram o exame da antiga quarta classe. Assim chamada por contraponto a uma outra mais nova, justamente a agora requalificada. Aqueloutra junto à sede política da freguesia – nem isso parece valer-lhe – a outra junto à Igreja (também designada de nova) de Gualtar.
Ou assim era designada no nosso tempo de menino quando aí demos – com orgulho o afirmamos – os primeiros passos académicos nos idos inícios dos anos 80 do século passado, aquando da sua reabertura por mais um punhado de anos e que nos marcou indelével e perenemente.
Hoje vemos a imagem de uma EB1 que já era “nova” a ficar mais nova e a dita “velha”, a se tornar ainda mais velha, não sabemos se por comodismo intolerável, desleixo, incompetência ou o que seja.
Pena que esta escola, dita de velha, não se tenha tornado apenas antiga, antes envelheça a olhos vistos sem um amparo ou sem saudade. Agora é velha, não de nome ou por forma a diferenciar-se de uma outra, mas de corpo e alma! Os anos percorrem sem contemplação a linha do tempo, enquanto a “Escola Velha” se esvai, se apaga, se esfuma.
Há dias o candidato do Partido Socialista às últimas eleições à Câmara Municipal, justificando a votação contra a alienação da “Confiança” afirmou que a falta de verbas “é um argumento de quem não tem vontade política de preservar…” e ainda que aquela “está a deixar degradar-se.
Não toma medidas simples que protejam o edificado e evite-se a degradação.” Ora os seus camaradas de partido na freguesia de Gualtar que presidem não comungarão da mesma visão ou, então e mais grave, só vale, e mal, em dias e circunstâncias de oposição!
Face à proximidade da “Escola Velha” à Junta de Freguesia só podemos concluir que o executivo desta já não a vê, só a olha ou talvez já nem a olhe. Se não lograram, nestes anos todos que se arrastam cruelmente, dar uma função, um objectivo, um desígnio, ao menos – repetimos ao menos – basta que não a abandonem aos ventos, às chuvas, aos efeitos implacáveis do tempo.
Desculpas, podem haver muitas, mas qual a desculpa para se deixar à vista de todos e à acção imperdoável do clima o que antes descrevemos das condições físicas do edificado? Não há dinheiro que pague umas telhas, uns vidros, uns meros taipais? Não cremos, serão opções… Poderão perguntar: mas então as suas ideias, que fazemos ou fizemos por contrariar esta realidade!
Temos ideias, sugestões desde há muito, queiram ouvi-las! Mas, na verdade, somos apenas um entre outros cidadãos. Cabe àqueles que querem ou quiseram ser os executores políticos e do poder, agir. Quiseram-no ser, devem assumir essa responsabilidade ainda que possam e devam, a nós meros cidadãos da res publica, auscultar o nosso pulsar!
Quem não recordar e respeitar o passado, está condenado a fracassar e não ser respeitado no futuro!
Autor: António Lima Martins