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Erros de paralaxe, nas sondagens e não só?

Quem lê, vê ou escuta os dados das sondagens – nestas eleições ou noutras quaisquer, digo por mim – fica com a sensação de algo vai mal no reino daquelas coisas de influenciar. Sim, porque, na maior parte dos casos das sondagens que nos são servidas, dá a impressão – coisa de ignorante na matéria! – que cada um introduz os dados que podem fornecer os resultados que mais lhe convenham. Andava eu a matutar nestas questões quando me veio à lembrança uma expressão: ‘erros de paralaxe’. Fui consultar a wikipédia e encontrei a descrição definitória seguinte: «erro de paralaxe é um erro que ocorre pela observação errada na escala de graduação causada por um desvio óptico causado pelo ângulo de visão do observador». Quer dizer que o resultado da observação pode depender do ângulo de obervação, possibilitando a ocorrência de algum erro de ilusão, que outro observador não teria, se o seu ângulo for diferente... 1. Deixemos as questões técnicas e quase laboratoriais e saíamos para o mundo das coisas políticas: não será verdade que o ângulo de obervação de alguém pode influenciar a apresentação dos resultados, que se pretendiam sem erro, imunes ou quase-isentos? Não bastará introduzir uma variante de observação mais ou mesmo interesseira para que os resultados de tantas sondagens possam fornecer quadros de leitura enviesada e algo tendenciosa? Da experiência dos tempos mais recentes – particularmente nas autárquicas, há cerca de quatro meses – podemos colher que, em boa parte das ‘empresas’ de sondagens, foi um tanto não-disfarçado que, conforme a encomenda, assim se davam os resultados. Por isso, soou mais uma vez a complexo que se pretendeu fazer crer que tudo correu de feição quando as variações se coadunaram com as pretensões. 2. As recentes eleições legislativas até introduziram uma nova modalidade: a sondagem diária, mas cujos descortinados não passavam de umas parcas centenas e daí se quisesse inferir que havia variação das sensibilidades, que as margens de erro andavam nos espaços de tendência e que até os manipulados eleitores não passavam de joguetes dos interesses das empresas de comunicação... Ao que chegamos no capítulo da informação-espetáculo, da tentativa de fazer crer que as mudanças ocorriam ao sabor dos produtos anunciados ou ainda que à força de tanto insistir há de resultar o que queríamos impingir… 3. Dizem que as ‘redes sociais’ revolucionaram a forma de comunicar e que o modo de fazer política anda mais ao ritmo das pretensões de uns tantos habilidosos, que, anteriormente, eram chamados de estrategas na arte de comunicar, mas que agora mais parecem vendedores de feira em maré de saldos... Aquilo a que chamavam comícios foram sendo convertidos em jantares-de-comer... para cada vez menos. As sessões de esclarecimento foram revertidas para a distribuição de propaganda e aquilo que eram manifestações – vulgo arruadas – se reduziram a passeios de rápidos, com pouca gente, fugindo do vírus e da sua propagação… Até os fastidiosos ‘tempos de antena’ perderam o sal, a invenção e a conotação dos cançonetistas mais apaniguados… As listas – sob o rótulo de abaixo-assinados – de apoio aos candidatos mais significativos já não cativaram os mais incautos, quanto os fervorosos e infetíveis...Numa palavra_ quase tudo mudou para muito pior e mais egoísta! 4. Não será que mais estas eleições não passaram de um conglomerado de erros de paralaxe, onde cada um vê o que quer e se conforta com o que lhe convém? Quando saberemos quem quer o bem da Nação e não quem anda a tentar impingir a ideologia ressabiada, de tempos idos e sem futuro? Escolhermos quem nos possa parecer mais capaz, fazemo-lo por verdade e com sentido de bem comum? Afinal, não tivemos de voltar a escolher o mal-menor e não os mais capazes e idóneos? Continuamos a ser sebastianistas, mesmo sem disso nos darmos conta, verdadeiramente! Continuamos à espera de quem nunca chega, mesmo que possa ser um tal ‘messias’ sem lógica nem convicção! Continuamos num tempo que devia cuidar do futuro com argumentos de um passado sem glória nem honra! Até quando não deixaremos enganar?
Autor: António Sílvio Couto
DM

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31 janeiro 2022