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Errar para evoluir

Écomum pensar-se que a competência, algum tipo de habilidade, dom, é a maior receita para o sucesso, tanto desportivo, como escolar ou profissional. Vários estudos recentes, realizados nos Estados Unidos, demonstram que a ênfase exacerbada na inteligência pode catapultar as pessoas para um abismo de medos e vulneráveis ao pequeno fracasso. De acordo com esses estudos, que se prolongaram por mais de 30 anos, os pedagogos podem promover o crescimento das crianças e jovens elogiando-os pela sua persistência ou estratégia de resolução dos problemas com que se deparam. Os estudos apontam que esse efeito acontece porque os alunos mais persistentes não ficam presos à sua própria falha ou deceção. Eles focam-se em encontrar os erros cometidos ao longo do processo e em tentar corrigi-los para progredir. Na realidade, quando se incentiva ao trabalho, ao mérito, à resolução dos problemas, ao confronto com a adversidade, permite-se que a criança/jovem cresça e perceba que o sucesso não é uma questão de inteligência ou classe social, mas sim um mérito do esforço. Quando se organiza um processo de treino com crianças/jovens é muito importante, então, perceber qual é o tipo de pessoa/atleta que se pretende atingir? Que tipo de pessoa se pretende, quando sujeita a um dilema, a uma decisão? Que tipo de pessoa se pretende, quando sujeita a uma adversidade? A função do treinador é agir como mentor, gestor e intérprete do desenvolvimento do praticante, fomentando a sua independência, informação e capacidade de resposta às exigências do treino e competição. Na minha conceção de formação, o não, a derrota, têm um lugar de destaque no processo desportivo. Aceitar a derrota e perceber as causas são fatores de sucesso futuros. Devemos aceitar a derrota, porque devemos acreditar que os erros são momentos do processo ensino-aprendizagem que, eventualmente, nos fazem crescer tanto ou mais que o sucesso. São claras oportunidades de crescimento. O entendimento do efeito que este momento (a derrota) poderá ter na criatividade e no crescimento (tático, emocional, físico, social), não está, nem pode estar, ao alcance de todos. Mas, a aceitação não é, nem pode ser, igual ao conformismo. O que me custa e não (me) permito, enquanto pedagogo, é a resignação, a crença, o individualismo e o desperdício. Na atual forma de estar da nossa sociedade, está cada vez mais difícil fazer entender que, sempre que um(a) atleta não dá o melhor de si a cada oportunidade que lhe é criada, está a desperdiçar uma oportunidade de evolução, que mais tarde, lhe poderá fazer falta para ser competente ou ter sucesso. A maior virtude do processo desportivo é fazer entender o quanto é importante a força de uma equipa, porque é que ficar de fora da convocatória não representa sermos inúteis para a equipa que representamos, porque é que o trabalho físico é fundamental para crescer e não é um castigo, porque é que o cumprimento das regras é primordial para atingir objetivos com satisfação, porque é que devemos ser solidários e dar tudo por quem luta ao nosso lado, porque é nem sempre uma derrota representa insucesso. Aquilo em que o desporto é rico e útil é precisamente possibilidade de criar no jovem a vontade em ultrapassar as dificuldades com que constantemente é confrontado. Desde muito cedo os desportistas devem ser habituados a perseguir objetivos relacionados com a qualidade do seu esforço, do seu empenho, das suas ações, da sua disciplina, da sua postura perante si próprio, os outros e as tarefas que os envolvem, em vez de serem confrontados competências que já possuem e em, apenas, chega ganhar…
Autor: Carlos Dias
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24 novembro 2017