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Era impossível mas… havia uma hipótese.

Em maio de 1967 os Beatles produziram Sgt. Pepper’s Lonely Hearts, considerado pela crítica em geral, uma obra prima que permaneceria durante 27 semanas no topo de álbuns do Reino Unido. Nesse mesmo ano nascia em Stuttgart, na Alemanha, um bebé a quem deram o nome de Jürgen Norbert Klopp. Ninguém sonharia que esse bebé, 52 anos depois, assumiria o papel de 5.º Beatle ao assinar, também ele, uma obra prima na 2ª mão das meias finais da Champions - 2019, apurando o Liverpool para a final.

E se houvesse estas emoções e esta modalidade em Portugal? Impossível. Recentemente, numa meia final, outros vermelhos, depois de perderem fora por 3-0 – olha as coincidências - em casa, foram impedidos de lutar pelo apuramento. Mérito do adversário? Infelizmente, não. Foi demérito da 3ª equipa, a que se quer isenta mas, no nosso país, com determinados clubes envolvidos, raramente - para não dizer nunca - o é.

Desde muito novo, para mim, o momento alto do ano futebolístico, sempre foi assistir (via TV) à transmissão da final da Taça de Inglaterra em Wembley. Aqueles sábados à tarde eram sagrados, nada mais interessava. Sonhava ir a Wembley ou Anfield, respirar futebol naquelas bancadas e com aqueles adeptos. O sonho tornou-se realidade e, já neste século, Old Trafford e Anfield Road, onde vivi um apuramento do SC Braga (veem, lá fora é possível) já fazem parte das minhas memórias futebolísticas.

Nesta meia final da Champions, que vivi como adepto do Liverpool, senti enorme frustração com o imerecido 0-3 de Camp Nou. As baixas, por lesão, de três influentes jogadores não deixavam antever um milagre. Mas se há estádios onde o impossível acontece, Anfield Road é um deles. Antes do jogo, Jürgen Klopp, um excelente exemplo futebolístico de que genialidade e loucura estão intimamente ligadas, passou esta sublime mensagem “é impossível passarmos mas, sendo vocês, há uma hipótese”. E foi atrás dessa hipótese (concretizada num 4-0) que ele induziu todo o grupo, a correr - os equipados, os que se sentaram no banco, os lesionados e a imensa mole que nas bancadas cantou, antes e depois do jogo, o “you’ll never walk alone” como se não houvesse amanhã. Ao ouvi-los, arrepiei-me e fiquei com a lágrima no canto do olho.

E quando se pensava que era improvável igualar esta façanha, no dia seguinte, outra equipa inglesa, o Tottenham, repetiu-a em Amsterdão de forma mais dramática ainda. Depois de ter perdido em casa (1.0), ao intervalo deste jogo estava a perder por 2-0. Apurou-se no 5.º minuto de desconto ao marcar o golo que selou a vitória por 3.2. À épica vitória festejada pelos londrinos, responderam os adeptos do Ajax, ovacionando em permanência os seus jogadores

Para descrever estes jogos e estas emoções faltam-me palavras, pelo que, não resisto a socorrer-me de algo escrito pelo professor Vítor Frade no livro - “Fora de jogo” o tempo todo:É do inesperado / é do espanto / no jogo quando jogado / que levados somos p’ro encanto. É arrebatamento / é paixão / é sentimento / é emoção.


Autor: Carlos Mangas
DM

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10 maio 2019