Num passado recente, a palavra poupar era um objetivo dos portugueses mesmo quando os salários e pensões eram reduzidos. Na verdade o país pequeno e pobre, não tinha uma Segurança Social capaz de garantir pensões, ou então eram ainda muito poucos os cidadãos com acesso a pensões geralmente muito reduzidas.
Era aliás importante o apoio das Casas do Povo e a ajuda dos particulares, para permitir a sobrevivência dos cidadãos após uma vida de trabalho. O sistema de Segurança Social foi-se desenvolvendo aos poucos, sendo na atualidade indispensável como forma de garantir uma vida digna a milhões de cidadãos. Num cenário de pobreza, com baixos salários e sem garantias quanto ao futuro, poupar significava amealhar hoje para gastar amanhã, se a necessidade a isso obrigasse.
Com o decorrer dos anos e alguma melhoria na economia, o país desenvolveu políticas sociais e com isso melhorou a qualidade de vida dos cidadãos. A poupança começou a ser um incentivo, uma forma de enriquecer para melhorar a qualidade de vida ou mesmo como forma de investir. A segunda metade do século passado, desenvolveu a economia e criou emprego, permitiu mudanças políticas e sociais, que "desenvolveram o país" e combateram a pobreza, ao mesmo tempo que fez renascer a esperança quanto ao futuro. Com a atividade económica e novas políticas, foi possível obter taxas de juro elevadas que motivaram poupanças, investimentos e criação de emprego.
Mas se a realidade era promissora, também a possibilidade de maior consumo foi um atrativo de tal forma que, comprar carro e casa, se tornou em poucos anos um fenómeno permanente que levou ao endividamento das famílias. A banca oferecia dinheiro a baixo custo, motivando cada vez mais o recurso ao empréstimo, da mesma forma que a redução nas taxas de juro, incentivaram o país a endividar-se. Creio que o final da década de 2000 foi desastroso para os portugueses, com a falência do sistema bancário Europeu e a necessidade de medidas drásticas por parte do Banco Europeu. Estas preocupações têm sido referidas por economistas, empresários, políticos, mas também pelo cidadão comum que se preocupa com os acontecimentos que são notícia na comunicação social.
Perante este cenário, os portugueses sofreram os efeitos da crise económica, assistiram ao fecho de bancos e empresas, a fenómenos de corrupção, ao endividamento permanente do país e das famílias. Mas agora, para pagar juros da dívida, o desemprego e o fecho de empresas vieram concluir uma crise externa que nos atingiu com reflexos ainda hoje presentes na nossa vida.
A pandemia surgiu entretanto como mais um fator negativo na vida dos portugueses. A Europa tenta agora dar resposta a políticas económicas, mantendo baixos juros e desenvolvendo programas para relançar as economias nos países. Porém, se é verdade que existem sinais de algumas melhorias, eles são por agora insuficientes para serem a solução do problema. Por outro lado, com juros baixos, os incentivos à poupança quase não existem, daí a desmotivação dos cidadãos por depósitos de rendimento reduzido. A grande incógnita reside nas decisões do Banco Central Europeu e na forma como em Portugal, as medidas externas vão influenciar as políticas nacionais dos próximos anos. Endividados já estamos, mas só com economias crescentes será possível motivar os cidadãos. Por tudo isto, são agora muitos os que reclamam mudança de políticas.
Autor: J. Carlos Queiroz