Na investigação a relação entre o investigador e o objeto de estudo pode ser uma relação de amor e de ódio. Ou seja, a mim, às vezes, a apetecer-me atirar com livros pela varanda fora, mas também, às vezes, sinto a enorme gratificação de ter conseguido aprender algo mais.
Esta relação pode ser discutida com as crianças – ou melhor, a ambivalência desta relação. Nem todos os dias apetece estudar. Há os dias de sol em que acaba por ser mais produtivo ir ver o mar – até para não esquecer que o objeto último de qualquer estudo é conhecer quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Ou seja, globalmente o objeto de estudo somos nós e a natureza, ou seja tudo, e tudo abrange o mar.
Nos dias lisos e brancos, em que a relação com o objeto de estudo é mais de ódio que de amor, vale a pena perguntar: investigar/estudar para quem? Investigar o quê? E porquê?
A investigação, o estudo, qualquer que seja o fenómeno ou objeto a estudar – não é neutral – o investigador está inserido num determinado meio sócio-natural e é sujeito de um processo social. Então o investigador deve a si mesmo uma auto reflexividade e uma auto vigilância ideológica.
Parece complicado? Não é.
Por exemplo, um investigador de sociedades ditas primitivas tem de ter o cuidado de não tomar por normalaquilo a que está habituado, o que o rodeiae a tomar por anormalque lhe é desconhecido, distante,exótico.
Porque, se o investigador não se vigia a si mesmo, acaba por ficar apanhado por um paroquialismo – isto é acaba a pensar que tudo o que acontece na sua paróquia é normal e serve de referência para o resto do planeta. Mas, vejamos melhor, pelo oposto:
Quando se diz aqui em Portugal, ou alguns interesses políticos o dizem, também por exemplo, que Metáfora é uma cidade Europeia, isso implica uma perda de referências planetárias, com a agravante de se cometer uma confusão geográfica. Isto é, não temos dúvidas de que a cidade Metáfora está localizada no continente Europeu, mas daí a imaginar que a cidade tem os seus problemas a serem estudados ou em vias de resolução em termos de referências sócio-culturais europeias vai uma grande distância.
Apontamos uma razão apenas da grande diferença entre Metáfora e uma cidade europeia: a ausência de participação dos cidadãos na identificação dos seus problemas e a ausência de participação dos cidadãos na discussão da resolução dos seus problemas.
Todos temos de aprender a identificar problemas. E tentar descobrir-lhes soluções. E sentir que nesse estudo há uma relação de amor e de ódio. É difícil, mas é gratificante. Investigar pode ser participar. Participar é construir a Democracia.
Autor: Beatriz Lamas Oliveira