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Enriquecer sem esforço

Os mass media, designadamente a televisão e as redes sociais passam frequentemente para a sociedade uma imagem estereotipada da sociedade, onde vemos muitas pessoas (que às vezes se julga que constitui a maior parte da sociedade) que vive feliz, no meio de casas paradisíacas, constantemente em viagem a destinos exóticos, circulando em carros de luxo que valem milhões, indo a festas e a restaurantes sofisticados, ostentando jóias e roupa de marcas caras.

Para quem acompanha estas personalidades, o dito jet set nacional, os VIP do nosso burgo, onde prevalecem futebolistas, cantores, apresentadores, empresários, entre outros, o êxito profissional, social e financeiro parece fácil e toda essa gente ostenta um ar de grande felicidade.

Como enriquecer? Como aceder a todo aquele fausto, comprar uma casa com piscina, ter carros de altas cilindradas, andar de festa em festa, viajar para as Caraíbas, Maldivas, Paris ou Nova Iorque?

Para muitos a solução mais fácil não passa por queimar as pestanas a estudar muito na juventude, tirar um curso superior e depois, através do esforço e do mérito, ir ascendendo lentamente na pirâmide social. Ou, constituir uma empresa e procurar desenvolvê-la, fazê-la crescer, criando riqueza.

Não, dá muito trabalho e é preciso muito tempo. Para muitos, o mais fácil é apostar em soluções imediatas, fantasiosas, acreditando que se jogar no Euromilhões ou gastar 50€ ou 100€ por semana em “raspadinhas”, irá garantidamente, mais cedo ou mais tarde, através de um golpe de sorte, trazer a riqueza que se almeja, sem esforço. Entretanto, muitos gastam no jogo (a receita mágica que escolheram para ascender na vida) o que têm e o que não têm.

Desta forma, passam por dificuldades várias, alguns vão-se endividando e a riqueza sonhada, essa, nunca chega. A “raspadinha” o jogo da moda chegou a Portugal, importada dos EUA, em 1995. Há cerca de 100 tipos de “raspadinhas” à venda e os preços vão de 1€ a 10€. Em 2018, o valor das raspadinhas vendidas em Portugal foi de 1.594 milhões de euros, o que significa que cada pessoa terá gasto cerca de 160€ por ano em raspadinhas.

Por comparação, em Espanha o valor das “raspadinhas” vendidas em 2018 foi de apenas 627 milhões de euros (14€/pessoa ano).

Esta terça-feira foi lançada a “raspadinha do Património”. Muitos especialistas têm vindo a alertar, com grande preocupação na adição que os jogos provocam de que, provavelmente, as “raspadinhas” constituem apenas a ponta do icebergue. De facto, atualmente, os grandes patrocinadores dos clubes de futebol e da publicidade na televisão são os casinos online. São às dezenas.

Ninguém sabe dizer exatamente quantas pessoas adquiriram adição ao jogo, gastando fortunas nestes jogos. Para além dos enormes problemas que estes jogos provocam no património pessoal, levando ao sobre-endividamento, há outros a nível familiar, social e psicológico.

Meu Deus que admirável mundo novo é este em que vivemos?


Autor: Fernando Viana
DM

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22 maio 2021