Há uma frase particularmente dignificante, atribuída a D. Pedro II, em que este diz “Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro”.
A maioria dos leitores deste texto teve, em algum momento da vida, um professor ou guia a quem deve muito do seu conhecimento e do seu caminho pessoal. Nem sempre esse exemplo a seguir terá sido especificamente um docente, mas foi certamente alguém cujas lições têm um valor incalculável, pois só quem esteve presente, entranhando esses ensinamentos e conselhos, poderá entender a sua importância.
Para inúmeros militantes ou simpatizantes do Partido Social Democrata, da Juventude Social Democrata e até de outras forças políticas, especialmente em Braga, esse exemplo foi – e continua a ser – o João Granja.
A vida política e os espaços de tomada de decisão têm sido historicamente reservados aos cidadãos das faixas etárias mais maduras, onde as palavras “jovem” e “juventude” já não são parte regular do léxico. Lembro, como muitos que antes procuraram entrar no mundo político, o nervosismo de dar o primeiro passo ao ir a uma reunião da “jota” e, principalmente, do partido. Compará-lo-ia a tentar aprender a nadar na piscina dos “pequenos”, para a seguir vermos a piscina dos “grandes” e sentirmos que é naquele lugar onde estão os nadadores experientes e temíveis. Essa sensação, no que concerne ao temor, rapidamente se desvanece quando conhecemos e ouvimos o João Granja.
Foi deputado na Assembleia da República e na não menos importante Assembleia Municipal de Braga por mais de 35 anos, onde liderou elegantemente a Bancada Municipal do PSD. Desde a sua despedida, todos entenderam que o esforço de lhe suceder não seria uma herança fácil, tendo esta sido, desde então, exemplarmente abraçada por João Marques, também ele decerto “aluno” do exemplo e sabedoria do João Granja.
Há adjetivos espaventosos que podiam ser elencados para enfatizar a sua empatia com os outros, o trato com preocupação com todos, assim como o sentido de humor apurado, ficando bastantes por mencionar. Mas, para o intuito deste texto, focar-me-ia na sua capacidade de liderança e na necessidade que ainda temos dela. Tendo de autoimpor apenas dois adjetivos que descrevam a importância que um jovem dá ao papel de João Granja na sua participação política, as suas capacidades de previdência e prudência terão de ser sublinhadas.
Quem já travou batalhas políticas compreende a euforia de uma vitória, assim como o desalento de uma derrota. A oportunidade de aprender com João Granja em ambos os momentos é algo que muitos já tiveram, contudo, ainda não os suficientes. Recordo bem, por serem recentes, os momentos eufóricos dos vitoriosos, seguidos prontamente das palavras “agora, sim, começa o trabalho sério”, porque sabia que a partir desse momento se estava a servir os outros. Lembro igualmente, com ainda maior apreço, os momentos de derrota em que o João Granja se assemelha ao professor que avista o aluno em dificuldades e o encoraja, ou ao treinador do jogador que falha o golo decisivo e o levanta do chão, assegurando que mantém plena confiança nele, principalmente e sobretudo quando o próprio não a tem.
Os jovens, ainda que necessitem sempre de aprender, têm de reivindicar e preencher o seu espaço nos locais de participação e decisão, mas não sem alguém que, tendo fé e esperança neles, continue a guiá-los, sendo um exemplo e apontando para o rumo a seguir, num projeto com futuro para os que dele colherão os frutos.
O João Granja já deu muito ao PSD e a Braga, eventualmente mais do que conseguiremos reconhecer, agradecer e retribuir. Como disse, grande número dos seus cidadãos deve-lhe muito do seu conhecimento e do seu trajeto pessoal.
Todavia, a alguém que pode ser tudo o que quiser, mas cuja nobreza de espírito o impede de pedir ou exigir algo, pedimos-lhe nós que continue, porque permanece muito por fazer.
Autor: Pedro Cerqueira de Araújo