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Emoção, Gratidão, Compromisso

Escrevo esta crónica depois de uma noite mal dormida. Sabendo que as emoções nos toldam a razão se não soubermos geri-las convenientemente, temos de perceber que fazê-lo é o melhor caminho para uma vida de qualidade e, consequentemente, o reflexo daquilo que somos e em que nos tornamos. O futebol proporciona-nos um manancial de emoções fortes que nos podem levar a atitudes pouco condizentes com o que somos no dia a dia. Isto porque, por muito racionais que tentemos ser, tudo o que acontece, aparece primeiro a nível emocional – o golo sofrido/marcado, o jogador contratado/transferido, o penalti convertido/defendido – originando uma descarga que se reflete no corpo porque, vivida e sentida.

E foi de emoções fortes que se fez a semana do SC Braga: a Gala no Teatro Circo, os golos (sofridos) em alvalade e uma transferência que nos levou ao maior conflito racional-emocional que o futebol transporta - resultados financeiros versus conquistas desportivas.

No que à Gala Legião de Ouro respeita, acompanhei-as todas, até hoje - umas vezes in loco, outras em casa - e posso afirmar que este ano, subscrevo as opções do clube e acredito que a maioria dos sócios concordará comigo. Mariana Machado, José Carlos Macedo, futebolistas e treinador “escolhidos”, todos deram provas desportivas e/ou de (luta pela) vida que justificaram a atribuição do galardão. A justa homenagem ao sócio (nº 6) Evaristo Gonçalves enquadra-se na frase que destaco do discurso do presidente: acredito e defendo que nenhum clube é grande sem uma grande memória. Só foi pena não ter seguido a sugestão do Ricardo Horta “presidente não faça um discurso longo uma vez que temos de ir dormir, pois na quarta feira há um jogo para ganhar”. O capitão, mais uma vez, tinha razão -- o discurso foi longo e o resultado, o que se viu.

Mas antes de ir a Alvalade, um saltinho até Marselha. Acredito que o clube do sul de França ganhou muitos adeptos. Todos os que idolatraram um atleta que VESTIU -- na verdadeira aceção do termo - a camisola do SCB e que foi (é) um exemplo de que o estoicismo colocado em campo, gera empatia e gratidão, a que nos leva a querer o seu sucesso, independentemente de já não envergar o nosso símbolo.

Por fim, Alvalade. Antes de mais, uma boa notícia — este ano não voltamos lá. Depois, as opções estratégicas da equipa técnica. A alteração do sistema num jogo decisivo para a entrada na Champions, soou a incoerência. Aprendi com o professor Jesualdo que mudar em função do adversário, gera duplo sinal negativo. Mostramos temor e, neste caso, estando eles mais rotinados nos princípios que jogar daquela forma implica, deu-lhes uma enorme vantagem adicional. Da última vez que descarrilamos em Alvalade, encarrilamos com cinco vitórias consecutivas. Sabe-se que uma equipa é um estado de ânimo e que grande percentagem do sucesso da mesma se justifica pelo clima de compromisso. É o que todos queremos, o compromisso que nos levou à melhor 1.ª volta da nossa história.


Autor: Carlos Mangas
DM

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3 fevereiro 2023