Nestes quentes dias de agosto, mais propícios ao lazer e ao descanso, se não fosse a maldição dos incêndios que ano após ano vão consumindo o que ainda resta da nossa floresta e algumas notícias que fazem prever um fim de verão politicamente agitado, aparentemente, arriscaria dizer que nada seria capaz de perturbar umas férias tranquilas.
Porém, trata-se de uma situação puramente ilusória.
Em tempo de férias, tentando refazer energias para enfrentar um novo ciclo de lidas e canseiras, não consigo desligar totalmente das más notícias que nestes dias estivais não param de chegar. Apesar da aparente acalmia, há questões vindas a público que pela sua gravidade e pelas consequências que podem gerar são muito inquietantes.
Em primeiro plano aparecem os incêndios que infelizmente continuam a ocupar lugar de relevo nos noticiários e a martirizar sempre as mesmas populações. Ano após ano, ouvem-se diagnósticos e muitas promessas para acabar com esta verdadeira praga que a todos empobrece e, obrigatoriamente, tem de se conluir que neste grave problema nada ou muito pouco se alterou.
Logo de seguida, a contratação de material de sensibilização para incêndios – as famosas golas antifumo – distribuídas no âmbito do programa “Aldeias Seguras” pela Proteção Civil , foi uma enorme trapalhada. Começaram por ser inflamáveis, depois já não eram, teriam custado sensivelmente o dobro do preço de mercado, depois já não, enfim, um verdadeiro folhetim a merecer um cabal esclarecimento que o inquérito mandado instaurar, após inexplicáveis hesitações, pelo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, terá de dar resposta.
Em quase permanência, a onda de relatos sobre a degradação do Serviço Nacional de Saúde não dá sinais de abrandar. Um pouco por todo o país há queixas de utentes e de profissionais sobre falta de recursos materiais e humanos, listas de consultas e cirurgias com tempos de espera inacreditáveis e, principalmente, uma grande desmotivação e uma falta de crença no futuro.
Envolta em grande animosidade e muita apreensão está a anunciada greve dos motoristas de transporte de matérias perigosas. Avisada há longos dias, parece não ter merecido das autoridades competentes o empenho total para resolver este conflito laboral que, em pleno mês de agosto, pode paralisar atividades essenciais do país, causando grandes transtornos à vida da generalidade dos portugueses e dando uma péssima imagem a quem nos escolheu para gozar as suas férias. Não questionando as razões nem dos trabalhadores, nem dos patrões, julgo que tudo deve ser feito para travar uma contenda que, além de prejuízos avultados, pode pôr em risco a paz social a que estamos habituados.
Estes são os assuntos que nos últimos dias me causam maior inquietação e algum desassossego!
A dois meses de eleições legislativas, que marcarão de forma indelével o nosso futuro coletivo para os próximos anos, apesar do direito de desfrutar alguns dias de merecido repouso, impõe-se reservar algum desse tempo para meditar sobre o que vai acontecendo à nossa volta.
Nesta estação de longos dias e de mais breves madrugadas há mais tempo para analisar, refletir e melhor ajuizar. É uma boa oportunidade para planear e compreender com maior profundidade e clareza a realidade que nos cerca e, assim, sermos capazes de agir com mais sabedoria.
Em período de férias, mais do que reservar uns momentos para reflexão interior, é tempo de planear o futuro para não deixar em mãos alheias as nossas próprias decisões.
Nesta época de diversas ameaças e de grandes incertezas, é preciso estar alerta e não resignar. Por trás de um período de bonança, há que temer pela chegada de grandes tempestades.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira