2. Terminada a campanha, antes de iniciar o mandato, o bem comum aconselharia que o vencedor elaborasse um programa – esse, sim, para valer – exequível e realista. Nesse programa teria lugar o que de válido, durante a campanha, os outros disseram. Isto se, é evidente, no exercício do poder, se tiver realmente a preocupação de governar para todos. Se predominarem os interesses pessoais, dos amigos ou do partido…
Exige-se de quem manda a consciência de que não sabe de tudo, não está a par de tudo, não vê tudo. É uma questão de bom senso escutar os outros e agir com a consciência da existência de coisas em que os outros têm carradas de razão. E o correto exercício do poder exige se ponham de lado caprichos e teimosias para agir tendo em vista, de verdade, o bem comum.
3. O facto de muito do que se diz na campanha não ser para levar a sério não dispensa os intervenientes na luta de agirem com correção. De respeitarem o opositor, que não deve nunca ser visto como inimigo. De não beliscarem no bom nome das pessoas. De não trazerem para a praça pública acusações infundadas, conscientes de que, também em campanha eleitoral, a difamação e a calúnia são ofensas.
O facto de nem tudo ser para levar a sério não justifica que se vá para o ataque pessoal, para o insulto, para a falta de respeito pela privacidade a que, também os homens públicos, têm direito.
Não justifica que se não faça uma clara distinção entre as pessoas e as ideias que defendem, combatendo estas mas respeitando aquelas.
4. O facto de nem tudo o que se diz na campanha eleitoral ser para levar a sério exige dos eleitores que atuem como cidadãos adultos. Que pensem pela própria cabeça. Que ponham em ação o sentido crítico. Que saibam distinguir o trigo do joio.
Mais do que estarem atentos ao que as pessoas dizem, procurem saber o que as pessoas são.
Infelizmente há quem, à hora de votar, pense mais no partido do que nas pessoas quando, em minha opinião, o mais importante são as pessoas.
Que se veja até que ponto quem se apresenta a sufrágio é ou não é capaz. Até que ponto tem dado provas de competência, honestidade, dedicação ao bem comum. Até que ponto procura agir com o propósito de servir sem se servir. Considera erro grave todas as formas de compadrio e de corrupção. Até que ponto é capaz de bater o pé ao líder partidário sempre que esteja em causa o bem das comunidades que se propõe servir.
Sei que vou provocar a indignação de algumas pessoas, mas considero que, em democracia, os partidos, como funcionam, são um mal necessário, porque nem sempre os interesses partidários se subordinam às exigências do bem comum.
Em eleições como as que se aproximam, em que o eleitor pode conhecer bem a personalidade dos candidatos, o bom senso recomenda se atenda mais à pessoa destes – à sua honestidade, à sua competência, à sua capacidade de trabalho – do que ao partido a cuja sombra se acolhem.
5. E que o cidadão eleitor não dê por terminado o seu direito/dever de cidadania depois de ter depositado o voto na urna. Compete-lhe acompanhar sempre a forma como o poder é exercido, aplaudindo o que merecer aplauso e censurando e denunciando o que for censurável e dever ser denunciado.
Que não deixe de alertar os responsáveis para os erros que cometem, para os abusos que se praticam, para os problemas de que se alheiam mas a que devem dar solução.
Autor: Silva Araújo
Em plena campanha eleitoral

DM
28 setembro 2017