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Em Dia de S. Valentim

1.Vem-se generalizando o hábito de considerar 14 de fevereiro como dia de S. Valentim, e de o identificar com o Dia dos Namorados.

Antes de mais, convém lembrar que o calendário litúrgico dedica o dia 14 de fevereiro aos santos Cirilo e Metódio, co-padroeiros da Europa, e não a S. Valentim.

2.Admitindo que naquele dia se recorda também S. Valentim, não me dispenso de perguntar: que ligação há entre aquele Santo e os namorados?

Segundo o P. José Leite, no primeiro volume da obra «Santos de Cada Dia», há dois santos com o nome Valentim, «cuja história é um pouco semelhante e não está, aliás, perfeitamente esclarecida».

 

O primeiro era um sacerdote romano, açoitado e decapitado na Via Flamínia, pelo ano 270.

Preso no reinado de Cláudio o Gótico, declarou abertamente a sua fé e considerou Júpiter e Mercúrio personagens impudicas e desprezíveis.

Entregue ao magistrado Astério, cuja filha era cega, curou-a, convertendo Astério e toda a família.

No século IV o Papa Júlio I (337-352) construiu em sua honra uma igreja, que Honório I (625-638) restaurou no século VII, e se tornou um muito frequentado centro de peregrinações.

 

Do outro S. Valentim diz-se ter sido bispo de Térni, na Úmbria, desde o ano 223, sendo ainda hoje honrado como padroeiro daquela cidade.

A pedido do filósofo romano Crato curou um filho deste, atacado de doença considerada sem remédio, conseguindo a conversão daquele filósofo, da sua família e de três jovens atenienses seus discípulos.

Conhecedor disto, o prefeito Abúndio mandou-o decapitar.

Volto à pergunta: porque se considera dia dos namorados o tal dia de S. Valentim?

Porque S. Valentim, à semelhança de tantos mártires, ao longo dos séculos, se deixou enamorar por Cristo dando a vida por Ele? porque os dois referidos santos com o nome Valentim, antes de morrerem, deram testemunho de um amor oblativo, libertando as pessoas de males com que se debatiam?

 

3.Seja porque for, a verdade é que a sociedade de consumo considera 14 de fevereiro Dia de S. Valentim e Dia dos Namorados. Dos apaixonados. Sugere que as pessoas, em 14 de fevereiro, testemunhem umas às outras o amor que lhes têm.

Lembro, a propósito, o que escreveu o Papa Francisco no n.º 89 de «A Alegria do Amor»: a palavra «amor», uma das mais usadas, muitas vezes aparece desfigurada.

Que os namorados, pois, se deem testemunho de um amor adulto, assente no respeito pelo outro em razão da sua dignidade de ser humano e de filho de Deus.

Que os namorados – ou enamorados, se quiserem - mostrem como amar é preocupar-se mais com o outro do que consigo próprio, uma vez que amor e egoísmo são incompatíveis.

Mostrem como amar não é viver do outro mas para o outro; não é servir-se do outro mas servi-lo; não é converter o outro em objeto mas sentir-se responsável pela sua promoção integral; não é arranjar ao outro problemas e complicações mas ajudá-lo a ser verdadeiramente feliz, preocupando-se com o seu bem e, sendo necessário, sacrificando-se por ele. Mostrem como o amor não é domínio mas serviço.

4.Que o namoro seja uma preparação séria para o casamento e não um casamento antecipado.

Que se ponha termo à violência no namoro, uma triste realidade que não deve ser ignorada.

Porque o casamento não é – ou não deve ser – o fim do namoro mas um passar a namorar de outra maneira, que se termine com as cenas de violência doméstica. Isto de infernizar a vida ao outro chamando-lhe meu amor…

Que as pessoas mostrem que se amam, não apenas com palavras mas sobretudo com atos. Não apenas um dia por ano, mas sempre. Que saibam arranjar tempo para estarem uma com a outra. Que não deixem de conversar.

5.Do dia dos namorados – ou dos enamorados, repito - pode muito bem ficar esta mensagem: o mundo será muito diferente se todos nós, que tanto falamos em amor, nos amarmos de verdade.


Autor: Silva Araújo
DM

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14 fevereiro 2017