Esta festa popular, com origem plausível em diversos povos da Antiguidade, é no tempo presente um acontecimento marcante na vida social e tem um impacto económico notável no turismo e na indústria do lazer de muitos países.
O Brasil é sempre lembrado como o maior expoente desta quadra festiva pela expressão grandiosa que assume, pela população que envolve e pelo caracter nacional das suas tradições. No entanto, em diferentes latitudes esta manifestação popular atinge enormes proporções sendo Veneza, Nice, Nova Orleães ou Quebeque bons exemplos dessa grandeza.
Em Portugal, o Carnaval é celebrado em todo o país atingindo grande notoriedade, entre outros, o da Madeira, o de Loulé, o de Ovar, o de Torres Novas e o de Alcobaça, sendo muito apreciados quer pelos portugueses, quer pelos turistas que nos visitam. Em todos eles prevalece a alegria e a irreverência, não faltando a mordaz sátira política e social a marcar os quadros alegóricos de marchas e desfiles.
Havendo evidências de que o uso positivo do bom humor é capaz de produzir benefícios na saúde, poderemos afirmar que não é por falta dele que os portugueses não são mais saudáveis. De facto, não há acontecimento social ou político que, quase de imediato, não traga à luz do dia piadas bem-humoradas prontas a circular de boca em boca ou nas redes sociais. Neste particular aspeto, penso que o povo português é criativo e fértil em imaginação e não deixa os seus créditos por pronunciações alheias, fazendo jus ao provérbio “pobrete mas alegrete”.
Na realidade, para a grande produção de gracejos e anedotas não faltam matérias. A sociedade portuguesa é pródiga em acontecimentos incríveis que muitas vezes pela fama, pela relevância e pela dimensão dos agentes envolvidos são capazes de gerar não só grande inquietação e espanto, mas também fonte copiosa de humor cáustico e irónico. Nos últimos anos não têm faltado casos que são autênticos escândalos!
Os casos BPN e BPP, embora já com alguns anos, ainda estão bem presentes na memória de todos. Seguiram-se outros de igual ou superior extensão de que são exemplos as “Operações Furacão e Monte Branco”, passando pelos estrondosos colapsos do BES e do GES e mais recentemente do BANIF. Em patamar “sui generis”, a “Operação Marquês” que tem como alvo principal o ex-primeiro ministro José Sócrates corre os seus trâmites há longo tempo e mais se assemelha a uma novela sem fim, pois à medida que o tempo passa vê engrossar o número dos seus protagonistas.
Estes perversos acontecimentos, para além de muitos sobressaltos e de grandes prejuízos ao país, têm danificado a imagem de Portugal mas não deixam de ser fontes de inspiração para muitas divertidas larachas. Há outras origens para a criatividade e para o despertar do humor do povo português que na sua habitual bonomia encara com naturalidade os muitos excessos que vão acontecendo na nossa sociedade, parecendo prolongar o espírito carnavalesco pelo resto do ano.
Verdadeiramente, julgo que é isso que normalmente acontece!
No dia-a-dia não faltam máscaras, fantasias e devaneios. Abunda o fingimento, a cobiça e a mentira e, em defesa própria resguardando-se de tanta podridão, os portugueses parecem encarar a realidade como se fosse sempre Carnaval.
Se assim não fosse, estou certo que não seríamos o povo que somos – pacífico, hospitaleiro e, principalmente, tão tolerante.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira