Na selecção de pessoas para funções políticas – e na avaliação do respectivo desempenho – os critérios que costumam avultar são a competência e a ambição.
Os dois interagem. Para muitos, competente é o ambicioso e ambicioso é o competente.
É certo que, ocasionalmente, lá aparece uma referência à humildade. Trata-se, porém, de uma concepção encolhida de humildade.
Hodiernamente, considera-se humilde quem parte de baixo, mas com uma vontade obstinada de chegar ao topo.
Numa sociedade fortemente competitiva – com acentos desmedidamente egocêntricos –, nota-se que cada um faz tudo para si, colocando-se antes – e acima – dos outros.
É a nossa realidade. Mas é também o nosso problema.
É pena que as pessoas boas não sejam valorizadas.
Ou que, pelo menos, não seja posta em devido realce a bondade que transportam.
Dá mesmo a impressão de que a bondade é uma contra-indicação. Não raramente, ela é conotada com a ingenuidade.
Quantas já não foram as vezes em que os nossos ouvidos registaram afirmações do género: «É muito boa pessoa. Por isso, não serve»!
Acresce que ninguém reage. Até parece que no mundo não há lugar para boas pessoas.
Não se pense que esta percepção é de agora, embora ela esteja a acentuar-se nos últimos tempos.
Já Nicolau Maquiavel reconheceu, há séculos, que «um príncipe, se quiser manter-se no poder, tem de aprender a não ser bom».
Para ele, há uma incompatibilidade estrutural entre a bondade e o exercício do poder. É que «um homem que se empenhe no bem morrerá no meio de tantos homens maus».
Quanto a isto, basta olhar para o Mestre dos mestres. Que aconteceu a Jesus?
E não foi Ele a prevenir-nos de que «o discípulo não é superior ao Mestre» (Lc 6, 40)? Porque é que a bondade incomoda tanto?
O certo é que a bondade não costuma ter lugar reservado na mesa onde se senta o poder. É preciso, por conseguinte, mudar de paradigma. E, graças a Deus, ainda há muita gente de bem na vida pública.
É urgente abrir-lhes caminho e não bloquear os seus passos. O mundo só mudará – para melhor – quando for dirigido por pessoas boas.
Urge apoiá-las, estejam onde estiverem. É hora de as colocar à frente das instituições e dos povos. Basta de cinismo alçado à categoria de inteligência.
Chegou o momento de perceber – como Agostinho da Silva percebeu – que «o supremo entender é a bondade»!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira