“Se por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher, então vele o inverso também: por trás de um pequeno homem talvez exista uma mulherzinha insignificante”. (Martha M.)
Fico incrédulo, sempre que me deparo com a notícia de um recém suspeito de um crime por corrupção, no nosso país, ver a esposa do investigado mostrar-se, quase sempre, distante do sucedido. Quase nos dando a entender que enquanto o caso decorria, ela vivia num mundo à parte do marido. Pelo menos é o que parece quando, normalmente, se vem mostrar desconhecedora do usufruto dos valores que via crescerem no cofre, ou nas contas bancárias do casal. Não topando, sequer, os mais variados e valiosos bens a entrarem em casa deles; nem da vida de fausto que ambos, a partir de determinada altura, levavam e pouco ou nada ligando se tudo estaria de acordo com os seus rendimentos legais. Custa-me muito a aceitar isso!
Com efeito, deve ser mais por aqui: ‘desde que a coisa não dê para o torto o que importa é usufruir, curtir e partilhar a vida – ao som dos milhões – como companheiros d’alegria’. Porque se correr mal, há sempre um ar cândido e inocente da companheira, que se revela, em caso de escândalo financeiro protagonizado por ele. Ignorando, assim, de onde vinha tanto dinheiro para luxos. Creio mesmo haver poucas esposas que, alguma vez, tenham feito esta pergunta ao cônjuge: - “ó homem, como é que foi conseguida toda esta fortuna? Vê lá se me andas a esconder alguma coisa!”.
Ainda recentemente foi marcado o julgamento de um casal, dono de uma empresa de camionagem que, como testa de ferro, usava os pesados para o tráfico de droga. Tendo sido apanhados no Algarve os cúmplices, contratados, com 6720 kg de haxixe, avaliado em 34 milhões de euros. Marido e mulher não eram ‘dementes’, eram os cabecilhas. Pois ambos tinham a noção de onde lhes caia tanto dinheiro na conta. E casais como eles, a viverem do pequeno e grande tráfico, ou do que quer que ilícito seja, há imensos. Isto, a julgar pelos evidentes sinais de vidas bastante desafogadas que alguns deles levam.
A tal respeito, a RTP 1 acabou de exibir no final de 2021 o último episódio da 2.ª série, luso-espanhola, “Auga Seca”, que retratava bem o ambiente de uma família a viver da traficância. Ali, deu para se ter uma ideia das enredosas malhas que um negócio ilegal de armas tece, ao ponto de serem nelas apanhados os próprios filhos do casal; do perigo de morte iminente, e de como dificilmente se sai de tão mafiosas redes.
Contudo, dá para vermos que há cada vez mais gente metida nessas andanças. Não só em negócios escuros, como na fuga às suas obrigações fiscais e sociais, ou seja, aos impostos e furtarem-se a pagar a quem devem. Sendo, dessa forma, que viajam para todo o lado e se instalam em luxuosos hotéis. Isto, depois de terem depositado milhões e milhões de euros em bancos estrangeiros provenientes dessas omissões. E dizendo à saciedade nas barbas de causídicos de gabarito – contratados em nome da Lei à custa chorudos emolumentos – que nunca receberam um euro que não lhes fosse devido.
E mais ainda. É que numa altura em que tanto se pugna pela igualdade – e bem –, já nestes casos a coisa muda de figura. E porquê? Porque enquanto conivente, ela deveria assumir a parte igualitária correspondente à responsabilidade que lhe couber nas falcatruas e surripianços do respetivo cônjuge. Pelo que não se trata de qualquer “misoginia” da moda, mas da devida imparcialidade de que carece a Justiça portuguesa. Isto, porque já não há ingénuas, nem desprovidas de instrução, o que não só as torna mais sabedoras e perspicazes, como difíceis de se deixarem enganar.
Para concluir direi que, em caso de transito em julgado do caso, cumpre à Justiça sentar “ele & ela” no banco dos réus, como prova inequívoca da igualdade. É que quando um marido dá em criminoso pode não ser só culpa sua. Porventura será, também, de alguma consorte fútil, ambiciosa e que exige demasiado ao parceiro.
Autor: Narciso Mendes
Ele & Ela

DM
17 janeiro 2022