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Ei-la, na crista do “onda”

Com receio de que comecem a escassear cargos para dar a tanta maralha da política, eis a Regionalização, na crista da “onda”, a espraiar-se na da agenda dos políticos. E se, outrora, tínhamos autarcas em início de funções cuja opinião era manifestamente contra, hoje, em fase de último mandato, ou por terem perdido o lugar em função dos votos, declaram-se a favor. Pelo que trazida à liça durante a campanha das legislativas 2022, há como que um perfilar de candidatos para surfar a “vaga” das ‘regiões administrativas’. Apesar de estar prevista na Constituição, de 1976, a divisão do país em regiões já havia tido um referendo, em 1985, chumbado com 60,87% de votos e 50% de abstenção. Pelo que, daí para cá, sempre que se trata de eleições e dada a escassez e pobreza de propostas para resolver os problemas mais urgentes do país, os políticos lá agitam as águas com a Regionalização. E se já houve quem tivesse dado umas braçadas – em agitado mar – nessa “onda”, hoje há quem para fora dela nade ao aperceber-se de tanto oportunismo. Todos quantos têm procurado defender a Regionalização argumentam de que, ela, não só é o melhor para o povo, como é sol a brilhar para o país. Só que, na sombra, vão escondendo as verdadeiras intenções e objetivos. De tal forma, que já pouco há quem acredite ser através dela que a descentralização vingará e o interior do país se desenvolverá. É que quando oiço políticos, como o dr. João Cravinho, a dizer, com todo o fervor socialista, que Portugal será dividido em 5 regiões; com 5 Assembleias Regionais; 300 deputados; 5 Juntas e 7 governantes regionais – fora os vice, adjuntos, secretários, pessoal administrativo etc., etc. –, está explicada tal aventura. Não é por acaso que o povo já diz – e com razão – que tudo não passa da “tachionalização” do país. Ou seja, de mais tachos, tachinhos e tachões para os de sempre, ou outros que apareçam. De preferência os que nada tenham para dar ao país, mas, antes, o que este terá para lhes oferecer. Quando há tanto onde gastar a nível das reformas de fundo no Estado, imprescindíveis ao nosso crescimento económico; maior apoio às empresas e aos investimentos; incentivos à produtividade; mais empenho quanto à agilização dos serviços públicos não só através da sua modernização, como da eficiência, rentabilidade e uma maior atenção às instituições como as da saúde, educação, Justiça e Segurança Social. Porém, não sou só eu a pensar nos aspetos negativos no que à causa das regiões concerne. Leia-se o que o sociólogo, António Barreto, escreveu, a esse propósito, no Jornal Público, em 22 de janeiro último: “a Regionalização é, nos tempos atuais, o maior embuste político que se possa imaginar”. Acrescentando a seguir: “ela é um biombo que esconde alguma coisa. É um disfarce que mascara. É uma desculpa para a incapacidade dos partidos. É uma falsa descentralização”. Isto, para além de a ter contemplado com alguns mimos de considerações, bem como elencado uma série de questões a que a mesma não virá dar a resposta de que o Portugal carece. É, pois, talvez à espera de uma maré alta orçamental e da correnteza proporcionada pela bazuca dos fundos europeus – destinada ao P. R. R. – que Portugal, em 2024, poderá vir a ter uma espécie de coloniazinhas (tipo centros de emprego). Isto, dentro de um território com pouco mais de 200 km de largura e quase 600 de comprimento. Sobretudo para aqueles que aprenderam a ‘surfar’ à volta do erário público nas “escolas” partidárias. Daí, cheirar-me a que, desta vez, os paladinos da democracia irão fintar os portugueses – mudando a Lei Nacional a fim de evitarem o referendo – para se darem-se ao luxo de desperdiçar recursos deste nosso endividado-crónico país, cuja carga fiscal já vai em 34,8% do PIB. Para tal, contam já com o Presidente Marcelo que, ao fazer-se história sobre si, em Belém, arriscar-se-á a ficar salpicado nas suas páginas por se ter embrenhado em tão encristada “vaga” despesista.
Autor: Narciso Mendes
DM

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31 janeiro 2022