twitter

Efeitos perversos

O sorteio da UEFA da Liga dos campeões foi flop, uma verdadeira lição para a arrogância deste organismo internacional. Nada se faz sem treino ou planeamento correto. Não é só o dinheiro que conta. Os olhos e as expetativas estavam todas dirigidas para um conjunto de bolas, que claramente definem muito do futuro dos clubes que estão envolvidos. Não é somente os próximos jogos que estão em causa, mas a entrada de milhões que permitem pensar e construir as próximas épocas. Na verdade, o que aconteceu foi fruto de alguma arrogância da UEFA e dos responsáveis pelo evento. O engano não surgiu no sorteio, o erro surge no planeamento e de não terem treinado convenientemente todo o sistema. A tecnologia não faz tudo, primeiro é preciso saber o que se quer, e depois é necessário planear, sistematizar, treinar, para que se consiga ser eficiente. Na tecnologia, tal como em qualquer sistema, há muito planeamento e treino.

Maria Ressa, jornalista que venceu o Nobel da Paz, no seu discurso alertou para esta realidade controlada pelos algoritmos das empresas que lucram milhões com as falsidades e opiniões manietadas. “O mundo precisa da verdade e do jornalismo livre”, afirmou. Concordando plenamente, faria uma transposição desta ideia também para o universo desportivo. As tecnologias invadiram o desporto – mas, como já vimos que nem sempre bem.

Em muitas vertentes dos desportos e dos meios de análise, de promoção, de divulgação, de avaliação, os meios tecnológicos estão presentes: no scouting, na estatística, na avaliação tática do jogo, na arbitragem, no lançamento dos jogos, nas análises táticas, nos erros de arbitragem, etc. Há tecnologia boa, mas muita outra que se deturpa e outra que está contaminada de lixo. A tecnologia não nos pode afastar da essência do que é o fenómeno desportivo. Hoje, os algoritmos dominam as nossas opções, controlam as nossas movimentações, fomentam a nossa opinião e controlam os sistemas. A tecnologia tem que fazer sentido e tem que dar sentido aos processos humanistas. As redes sociais, por exemplo, estão a contaminar, cada vez mais, as sociedades com mentiras, especulações, juízos em praça pública, carregando-as de ódio, radicalização, polémicas, irracionalidade, agressões e violência. Com as tecnologias certas, com a inovação correta, guiado por valores humanistas, o mundo do Desporto precisa da verdade, do rigor, da emoção – sem radicalização. Precisa de se impor como um meio para a excelência, sem a ganância do lucro fácil. O desporto não precisa de mais arrogância. O desporto na sua essência tem que voltar a ser mais primário - nos valores, na emoção, na inspiração.

Por falar em inspiração - e para poder terminar bem este artigo - gostaria de relembrar toda a emoção vivida na Gala da CM Braga, quando foi entregue o “Prémio de Excelência” ao supermedalhado canoísta bracarense Emanuel Silva. A qualidade poética e significado do texto lido na sua apresentação, associadas à reação e discurso do atleta, constituíram uma verdadeira e excelente inspiração para todos os jovens atletas presentes. Na verdade, é disto que o desporto precisa…


Autor: Carlos Dias
DM

DM

17 dezembro 2021