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Educar e ser educado

E os miudinhos, que têm nos pais os grandes mestres, repetem o que ouvem. Aprendem o que lhes ensinam. Dizem o calão, os termos mais grosseiros e indelicados, com a maior simplicidade e a maior naturalidade deste mundo. Pois se lhes não ensinaram outro vocabulário! 

2. Há aspetos em que se avançou muito nos cuidados para com as crianças. São os exames médicos pré-natais e logo após o parto, são as vacinas, é o tipo de alimentação, é o vestuário, são os brinquedos... mas parece-me ter-se avançado pouco em questões de educação. E isto porque ninguém dá o que não tem, e ninguém possui o que não recebeu.

Não quero culpar ninguém. Se houvesse de o fazer, teria de apontar o dedo aos mais evoluídos e aos mais educados, que deveriam ter ajudado os outros nesta matéria.

Mas não se trata de culpabilizar nem de responsabilizar seja quem for. Trata-se, sim, de verificar uma situação e de sensibilizar para que a situação se inverta.

3. É necessário formar o homem e o cristão. Primeiro o homem e depois o cristão, já que não será verdadeiramente cristão quem não começar por ser autenticamente homem.

Continuo a pensar na necessidade de ajudar jovens casais a prepararem-se seriamente para o seu múnus de esposas/maridos, de pais, de corresponsáveis por uma família.

E formá-los não é apenas falar-lhes da unidade e da indissolubilidade do Matrimónio, da oração conjugal e familiar, da educação religiosa dos filhos. É dizer-lhes também que são responsáveis pela felicidade daquele/a com quem quiseram casar e da dos filhos que ambos, colaborando com Deus, decidiram chamar à vida. É mostrar-lhes como casar é assumir a responsabilidade de fundar um lar e não de montar uma pensão ou um restaurante. É mostrar-lhes, na prática, o que cada um pode e deve fazer para que se sintam bem os que vivem com ele. É falar-lhes de puericultura, de culinária, de economia doméstica, do arranjo das roupas, da solução dos vulgares problemas domésticos, das boas maneiras que é preciso saber ter, etc. etc.

Formar os jovens casais também é, em certos casos, dizer-lhes como devem falar um para o outro e ambos para os filhos. Mostrar-lhes como é indelicado e até grosseiro o uso de certos vocábulos e ensinar-lhes outros para utilizarem em sua substituição.

Fazem falta, a nível paroquial ou de outras pequenas comunidades, encontros regulares com jovens casais. Encontros informais. Onde todos se sintam à vontade. Onde o diálogo seja norma permanente. Onde as questões do dia a dia sejam postas com naturalidade e com realismo. Onde, no maior respeito e compreensão pelas pessoas, as diversas situações concretas e formas de atuação sejam analisadas, para que se confirme o que é de confirmar, se corrija o que é de corrigir, se elimine o que é de eliminar, se melhore o que é de melhorar.

4. O Papa Francisco refere-se a este tema em «A alegria do amor», particularmente nos números 204, 206 a 209, 211, 214. No número 206 fala da exigência  de um empenhamento maior de toda a comunidade cristã na preparação dos noivos para o matrimónio. No número 208 escreve que cada pessoa prepara-se para o matrimónio, desde o seu nascimento, no que o comportamento dos pais tem uma grande influência.

Com esta finalidade existem os Centros de Preparação para o Matrimónio (CPM) cuja atividade, em minha opinião, deve ser cuidadosamente repensada.

É imperioso formar formadores; educar educadores. Só assim as coisas mudarão.


Autor: Silva Araújo
DM

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27 julho 2017