O Homem é um ser eminentemente social, vivendo em grupo e procurando a companhia dos seus semelhantes; e, se assim não fosse, pouco se diferenciava do animal, não falando, não pensando, não distinguindo o mal do bem.
E, como prova desta asserção, temos, por exemplo, os casos históricos dos irmãos Remo e Rómulo, amamentados por uma loba, do selvagem" de Aveyron, das meninas Amala e Kamala; e, vivendo como animais e entre animais, estas crianças não riam, não choravam, comiam e bebiam como os animais, caminhavam a quatro patas, sorviam os líquidos com a língua, passavam os dias escondidas e, à noite, davam saltos, tentando fugir e uivando como lobos.
Ora, estes e outros casos estudados pela ciência demonstram que sem Educação e Ensino o ser humano pouco mais progredia do que qualquer animal; ademais, contrariamente ao que afirmava Jonh LocKe, filósofo inglês (1632-1704 ), a criança quando nasce não é uma tábua rasa, uma folha em branco onde podemos escrever o que quisermos, donde resultaria, obviamente, um cidadão educado conforme as conveniências da sociedade e da época.
Quando nasce sabemos que a criança transporta consigo uma herança genética constituída por impulsos, tendências, instintos e virtualidades que têm de ser devidamente orientados, aproveitados e sublimados para a sua futura educação e a que não é estranha a força da hereditariedade; e o caso histórico das irmãs Amala e Kamala que B. Bettelheim encontrou na selva entre animais vem provar que o comportamento animal destas crianças era devido ao facto de serem privadas do convívio e dos benefícios da educação e do ensino.
Pois bem, não temos dúvidas de que a educação e o ensino devem começar em família e continuar na escola; e digo família, pois dadas as novas conjeturas de famílias monoparentais e mesmo homossexuais, o dever de educar a todos diz respeito; e, sabido que, isolado e privado da presença de outrem, o ser humano não adquire nenhum dos traços que o definem e caraterizam, transformando-se numa espécie de monstro.
Agora, a pergunta que se tem de equacionar é: Como educar com Liberdade e Autoridade nos tempos que correm? Ou seja, que fronteiras definem as duas fundamentais componentes de uma educação de futuro e numa sociedade democrática?
Ora, educar com Liberdade e Autoridade pressupõe da parte de quem educa firmeza, diálogo, compreensão e cedência e da parte de quem é educado a necessária disponibilidade, abertura e aceitação, tendo, naturalmente, o educando necessidade de segurança, de escolha, de reconhecimento e iniciativa.
E, assim, deve ser despertado no educando o espírito crítico, o sentido de responsabilidade e a disponibilidade para a discussão serena de regras, critérios e valores antes de serem afirmados e aceites; como igualmente ao educador se deve exigir que, respeitando no educando a sua liberdade e identidade, se afirme pelo seu valor pessoal, esforço, perseverança e amor, pois daqui nascerá a empatia necessária entre ambos os elementos da ação educativa.
Assim Liberdade e Autoridade, noções que na aparência se contradizem e se opõem, exercidas com prudência, moderação e equilíbrio de meios, em vez de se oporem, complementam-se; e assim a Autoridade, não sendo um fim em si mesma, torna-se num meio ou num guia que permite a retidão, a aquisição e o desenvolvimento da Liberdade.
Depois, se pensarmos que educar é fazer adquirir conhecimentos, despertar hábitos e valores e desenvolver capacidades e qualidades intelectuais, morais, físicas e sociais para bem de uma instrução e educação de futuro, que tarefa ciclópica se põe a quem tem de educar e instruir; como igualmente a quem de tal ação recebe tamanhos benefícios.
Agora, educar com Liberdade e Autoridade é preparar fundamentalmente o educando para ter pensamento próprio e espírito crítico, ser autónomo, solidário, responsável, independente, tolerante, livre e respeitar as ideias diversas que têm como fundamento o comportamento social e individual; e a Liberdade deve obedecer a valores, critérios e atitudes que respeitem sempre a Liberdade dos outros.
E este conjunto de normas devem reger-se por uma atuação firme, clara, serena e justa de quem educa a que chamamos Autoridade que não se deve nunca confundir com autoritarismo e essencialmente derivar da admiração, do respeito, da confiança e serenidade do educando para com o educador; e só deste modo Liberdade e Autoridade serão utilizadas com ponderação, bem senso e intuição, impedindo-se assim que se siga caminho nem da demasiada Liberdade, nem de idêntica Autoridade.
Agora, o que nos pode preocupar é: estarão a família e a escola preparadas para,
nos tempos conturbados que atravessamos, educar com Liberdade e Autoridade?
Apenas, dúvidas não temos de que uma resposta positiva a tal preocupação pertence a todos:
pais, professores, governantes, sociedade em geral.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
Educar com liberdade e autoridade
DM
10 abril 2019