Foi tornado público, com toda a pompa e circunstância mediática, o ranking dos melhores hospitais classificados pelo “Top 5”, promovido pela IASIST, uma multinacional espanhola que avalia periodicamente o desempenho das Instituições hospitalares integradas no Serviço Nacional de Saúde.
O Centro Hospitalar do Porto, de novo à cabeça classificativa pela quarta vez nestas edições do ranking, com o “Prémio Consistência” e “Evolução Clínica”, relembrando que o Hospital de Braga já tinha sido nomeado o “Melhor Hospital do País”, neste caso, galardoado pela Entidade Reguladora da Saúde, a entidade promocional com competências de avaliação ao perfil funcional dos hospitais públicos. Nesta sequência, no top da “Evolução Clínica”, entre outros hospitais, também o Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães, foi um justo vencedor, na óptica metodológica dos seus mentores deste projecto-piloto, relativamente à “qualidade (mortalidade, complicações e readmissões), eficiência (demoras médias no internamento, produtividade por médico e enfermeiro e custos que os hospitais incorrem por doente) e adequação (cirurgia de ambulatório).
Mas em boa verdade, tudo isto representa um cenário de apreciação de papéis recebidos nos gabinetes, constatando-se a ausência no terreno para os agentes avaliadores, testemunharem as dificuldades desesperadas dos utentes que confrontam diariamente quando se deslocam às unidades de saúde pública.
O que inevitavelmente verificamos é um lastimoso estado organizacional em algumas zonas de maior impacto sobre as pessoas, nomeadamente a morosidade de atendimento nas consultas externas, o peso burocrático nos balcões da recepção, o desconforto na colheita de sangue ou na realização de exames auxiliares de diagnóstico, o agravamento da lista de espera para a realização de actos cirúrgicos, estudo e tratamento clínico na maioria das valências médicas da especialidade, enfim, um rol de situações contraditórias num tapete vermelho de celebridades investidas pelo prémio da excelência, hipotecando a verdade omissa à opinião pública que só se apercebe da realidade quando aflui aos hospitais do SNS.
Nas basta parecer sério, é preciso sê-lo. Há um notável descontentamento não registado dos utentes insatisfeitos na ordem dos 35%, com maior incidência na má prestação da qualidade dos serviços de urgência hospitalar, o “calcanhar de Aquiles” do SNS, com infra-estruturas e atendimento muito aquém e em contraste com as referidas notas cifradas no ranking dos Hospitais nomeados.
Por exemplo, o Hospital de Braga precisa de melhorar com “consistência” toda uma moldura à volta do diagrama do procedimento funcional das consultas externas, suavizando a presença física, muitas vezes procedida por uma mobilidade debilitada dos utentes no que concerne ao atendimento básico e chamada clínica, havendo casos de longa espera excessiva, causando desconforto na pessoa que aguarda ser chamada.
Presumivelmente, o ponto de referência negativa, o modelo praticado sobre o funcionamento do serviço de colheitas de sangue, a realização de exames imagiológicos e mesmo o Hospital de Dia, já necessita doutra versão mais adequada à especificidade patológica dos utentes, induzindo um critério mais humanista e menos “administrativo”. Contudo, como o hospital bracarense é uma instituição de saúde pública de “mente aberta”, inovadora e rejuvenescente de ideias, a sociabilidade com o seu “público” é demasiado importante para o conforto e harmonização presencial. Assim, sugere-se: nalguns espaços, a instalação de música ambiental; sonorizar com eficácia a chamada dos utentes; maior comodidade das salas de espera; melhorar os sistemas de marcação e efectivação de consultas; informar os utentes quando há atrasos significativos de atendimento clínico; proporcionar a abertura de um sinal de internet “free guest”; promover formação profissional nas relações públicas e certificar perfis para o desempenho; sensibilizar os profissionais no cumprimento dos horários de atendimento previamente definido; instalar logística de “check-in” no acesso aos serviços clínicos, etc.. Podemos, então, começar a acreditar que o “Prémio de Consistência” ou de “Evolução Clínica” são credíveis e dignos do mérito conquistado, para engrandecer os níveis excelentes dos Serviços que já lá fazem as honras da casa.
Autor: albino Gonçalves
É tudo top e até muito bonito, mas…
DM
13 novembro 2017