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E subitamente… Porpora!

  • O compositor napolitano Porpora, esse ilustre desconhecido). À semelhança do que aqui já tenho uma ou outra vez feito (a propósito de compositores, intérpretes ou obras musicais que sejam desconhecidas, esquecidas ou sub-valorizadas) venho hoje trazer ao vosso conhecimento o genial autor Nicola Antonio Porpora (1686-1768) e a sua inspiradíssima ópera (“dramma in tre atti”), de nome “Germanico in Germania”, escrita em 1732.
  • O Romantismo representa porém o apogeu, na história da Música Classica). Foram os acordes iniciais da 6.ª sinfonia (“Pastoral”) do “maior dos músicos”, Beethoven, que aos 13 anos me despertaram para o mundo da “grande música”. Nos anos seguintes estabeleci gradualmente a minha hierarquia pessoal dos grandes criadores, uns sendo românticos, outros, barrocos. No 2.º patamar só havia um, Haendel. No 3º patamar (e talvez por esta ordem) estão J. S. Bach, Vivaldi, Rossini, Tchaikovski, Donizetti, Dvorjak, Glinka, Chopin, a família Strauss, Verdi, Schubert, Telemann, Wagner, Grétry, Mendelsohn, Brahms, Liszt, Purcell, Mozart, Lully (ou G. Lulli), Bizet, Berlioz, Gyula Dávid, Sibelius, Stephen Foster, Francisco de Lacerda, Weber, Gluck, Rameau, Pergolesi e outros.
  • Nos últimos anos, cresceu o interesse mundial em relação ao Barroco). E além das estrelas atrás citadas (Bach, Haendel, Vivaldi,etc.) começou a redescobrir-se e editar-se em CD a obra de outros génios “menores”, tais como o alemão Hasse ou os italianos L. Vinci, L. Leo ou N. A. Porpora. O meu primeiro contacto com Porpora foi através de um CD que comprei, o “Catone”, de G. F. Haendel; o qual, por ser um “pasticcio”, incluía bastantes árias alheias, no caso, dos citados italianos.
  • A alusão ao “castrato” Cafariello, no “Barbeiro de Sevilha”). Os lamentáveis costumes do início do séc. XVIII proibiam as mulheres de cantar, nas óperas. O papel destas, era desempenhado por rapazes que na adolescência sofreram a amputação que se adivinha, para que no resto da sua vida tivessem uma voz semelhante à de uma mulher. O seu ensino musical era também, de uma disciplina e sacrifícios hoje inimagináveis. Porém, os melhores eram adulados pela vida fora. Ainda hoje se recordam, p. ex., Farinelli ou Caffariello. O genial Gioacchino Rossini (1792-1868) põe, no seu “Barbeiro”, don Bartolo (o velho médico, tutor da bela Rosina) a comentar, desdenhoso, falando com aquele que ele pensava ser o substituto dum cúpido prof. de música seu amigo (don Basilio), lamentando que a Música, no seu tempo, era outra coisa. Quando, p. ex., cantava Caffariello: “ quando mi sei vicina, amabile Rosina”. E põe-se ele a cantar esta bela ária, já então velha de 100 anos… Só que, a elaborada (e extraordinária) ária que Rosina tinha acabado de cantar, “Contro un cor che accende amore” era muito mais bela, ainda. E vem tudo isto a propósito de, na hoje aqui tão enaltecida ópera de Porpora, o “Germanico in Germania”, vários dos papeis, inclusive de militares (Hermann, o general Germanicus Caesar e o capitão Cecina) serem interpretados por vozes de falsete (no meu CD, Nesi, Cencia e Bennani).
  • O enredo, fantasista, do “Germanico in Germania”). Quem o escreveu foi um tal N. Coluzzi, que faz terminar o drama por um curto coral que propõe a futura amizade entre a Germânia e a Itália. As coisas não se passaram porém, como o enredo as descreve. Tudo acontece, no ambiente histórico dos anos de 14 a 16 d. C., quando Roma envia Germanicus Caesar para o “limes” do Reno, a fim de procurar vingar o terrível desastre da floresta de Teutoburg (9 d. C.), no qual as legiões XVII, XVIII e XIX (comandadas por Varo, que aí morreu) foram massacradas por Hermann (Arminius), perto de Hanôver. Desta 2ª vez, a sorte não foi tão adversa a Roma. A devastação da região entre Reno e Elba foi grande, mas Roma não conseguiu matar ou capturar Hermann. Nem Marobodus (rei dos marcomanos e aliado de Roma) tão pouco o venceu. Hermann (tal como Viriato…) foi assassinado à traição por membros da sua tribo (os cheruscos), no ano de 19 d. C., aos 38 anos de idade. Mas, depois do trauma de Teutoburgo, Roma já havia desistido para sempre de se expandir além-Reno.
  • Quem foi o italiano Germanicus Caesar?). A par de Hermann, decerto é um dos heróis desta ópera. Nasceu em 15 a. C. e era filho de Druso (também ele alcunhado de “Germanicus”, por ter conquistado vastas áreas além-Reno e ter morrido de queda dum cavalo no Elba, aos 29 anos, em 9 a. C.). Druso era enteado de Augusto e irmão do futuro imperador Tibério (e foi genro do grande Marco António, de quem Germanicus Caesar é pois, neto). O herói desta ópera foi também pai do imperador Calígula (37 a 41) e irmão do imperador Cláudio (41-54), o que conquistou a Grã-Bretanha. Tal era a “gens Julia”, da qual outros membros fundaram Scalabis, a futura Santarém… O tio, Tibério, parece ter tido bastante inveja de Germanicus, agora cônsul; e enviou-o ao Oriente como comandante militar supremo das províncias orientais; onde foi bem sucedido, apesar da inimizade com Calpúrnio Piso (o gov. da Síria) e duma mal pensada viagem ao Egipto. Haveria de morrer envenenado pela mulher daquele, em Antioquia, no mesmo ano em que morreu Armínio, 19 d. C.. Faz este ano de 2019, precisamente 2 mil anos, certos… Jesus Cristo, teria, à época, cerca de 25 anos.

Autor: Eduardo Tomás Alves
DM

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16 abril 2019