Antes de tudo, uma manifestação de interesses: sou jornalista do Jornal Diário do Minho, que é propriedade da Arquidiocese de Braga. Mas importa sublinhar que não tenho qualquer tipo de submissão hierárquica ou outra que seja ao Deão do Cabido da Sé Primacial de Braga, Cónego José Paulo Abreu. Da mesma forma que inexiste qualquer tipo de conflito que me oponha à Polícia Municipal de Braga, pela qual tenho a maior consideração e respeito. E recordo de modo muito singular a ação pedagógica que a Polícia Municipal exercia nos tempos em que era presidida pelo ex-vereador Firmino Marques, atual deputado à Assembleia da República. Curiosamente, foi nesse consulado que me vi obrigado a ir buscar o meu automóvel ao parque da PSP, por ter estacionado, ainda que breves minutos, na área reservada à paragem dos Transportes Urbanos de Braga e a cidadãos portadores de deficiência física.
Confesso que, das duas vezes que tive que pagar 60 euros pelo reboque, 30 euros pela coima de estacionamento proibido e 17 euros por guarda da minha viatura em parque de estacionamento quase espumei de revolta. Valeu-me, na altura, o conforto de que o automóvel estava diligentemente vigiado pela securitária PSP, não fosse eu próprio, ou um qualquer meliante, tomado pela ousadia de um assalto fortuito.
Mas se aprendi com os meus erros que há coisas que são intoleráveis , já o que domingo ocorreu nas imediações da Sé Primacial de Braga motiva muita estranheza. As multas cirúrgicas que, pelos dados disponíveis, foram promovidas pela Polícia Municipal de Braga no âmbito de uma cerimónia dedicada às mulheres grávidas, em nada abona em favor das políticas municipais de incentivo à natalidade.
Enquanto concelhos bem mais pobres do que Braga se desdobram em esforços financeiros para fomentar o crescimento da natalidade – oferecem benefícios fiscais à fixação de jovens casais, oferecem enxovais para recém-nascidos e atribuem prémios de valor pecuniário não desprezível por cada filho de um jovem casal –, Braga brindou este domingo as famílias na iminência de terem mais um filho com um “presente natalício” da Polícia tutelada pela Câmara Municipal de Braga. No final da Missa das Grávidas, celebrada na Sé Primacial, foram vários os convites para uma passagem “a posteriori” pelas instalações da Polícia Municipal para liquidar a coima por estacionamento indevido.
E se a legitimidade da operação é inquestionável, qualquer que tenha sido o motivo da operação que mobilizou a quase totalidade dos agentes em serviço, do ponto de vista ético a questão impõe-se: onde anda a Polícia Municipal quando as viaturas dos adeptos do Sporting Clube de Braga cometem verdadeiros atentados à segurança rodoviária, para assistirem a um mero jogo de futebol? Onde param os agentes da Polícia da Câmara Municipal de Braga quando os associados do ABC invadem a Estrada Nacional que liga Braga a Guimarães, com claros perigos para a segurança rodoviária, além de manifesto desprezo para com os restantes automobilistas? E onde se mete a Polícia Municipal para não ver o desastre que causam os papás que diariamente recolhem os filhinhos das mamãs em colégios particulares, usurpando os passeios reservados aos peões e ocupando duas das três faixas de rodagem disponíveis?
Era bom que a vereadora que tutela a Polícia Municipal pensasse nisso, até porque Braga tem elevado a bandeira de uma cidade inclusiva e tem-se vangloriado do título de Município familiarmente responsável.
Boa semana.
Autor: Joaquim Fernandes
E que tal pensar nisto?
DM
14 dezembro 2021