Caminhamos a passos largos para o Natal. E na azáfama desta quadra de apelo constante ao consumismo que aliena a humanidade que caracteriza a nossa essência, todos os dias corremos apressados para o trabalho, na ânsia de que, ao final da jornada laboral, nos sobre um pouco de tempo para as compras que ainda não fizemos e que tomam conta do nosso pensamento.
A obsessão vai ao ponto de, ainda manhã cedo, vociferarmos contra o condutor que está à nossa frente, só porque não arrancou à velocidade com que o nosso pensamento antecipou a passagem do sinal vermelho a verde, nos semáforos que nos interrompem a marcha para o emprego há dezenas anos e que conhecemos como a palma das nossas mãos, para “adivinharmos” o momento exato em que vai mudar de cor.
Esquecemo-nos que quem circula à nossa frente pode estar parado naquele semáforo pela primeira vez ou que pode ter saído de casa para o trabalho com uma qualquer triste notícia que nos faria ligar ao chefe a comunicar que não estávamos em condições de ir trabalhar nesse dia. E esquecemo-nos também que o verdadeiro espírito de Natal faz cada vez mais sentido ser revelado na forma como nos comportamos enquanto condutores.
É que a estrada onde circulamos diariamente faz parte do longo percurso da nossa vida. E os momentos em que os constrangimentos rodoviários parecem impedir a nossa marcha, bem podem revelar-se verdadeiras auto-estradas para a nossa caminhada interior.
Foi isso que experienciei um destes dias, num momento em que estava literalmente parado num trânsito “infernal”. O simpático desconhecido que, através da rádio, me acompanhava na longa fila, largou um comentário pleno de intensidade: “Somos uns merdas, quando passamos o dia a distribuir sorrisos, por vezes fingidos, para os colegas de trabalho e, mal chegamos a casa, descarregamos todo o nosso mal estar nas pessoas que mais nos amam”.
Talvez valha a pensar se o sorriso amável não será a melhor prenda de Natal que espera de nós quem todos os dias nos acolhe em casa com o amor que dá a cada jornada da nossa existência um sentido natalício.
Boa semana.
Autor: Joaquim Martins Fernandes
E que tal pensar nisto?
DM
20 dezembro 2021