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É preciso questionar

Sou adepto de um bom debate de ideias. De um debate caloroso e sem barreiras. Sem estigmas e sem afrontamentos. Só de ideias. Um debate aberto e, se possível, esclarecedor. Unicamente limitado pelas regras da boa convivência, e da convivência democrática, onde o respeito pela opinião dos outros é exigência inegociável.

Vem isto a propósito de um “debate” que mantenho já há algum tempo com vários amigos através de e-mail. Por sinal, esses amigos estão quase todos situados – dizem eles – dentro da linha ideológica da esquerda. Há, neste “bate-papo”, os que são mais participantes e irreverentes e outros há, naturalmente, mais assistentes. A boa- fé e a tranquilidade, entretanto, imperam.

1 - Num dos email’s, surgiu, à socapa, para debater o “tema”: elegância e provocação. Daí, a condução da argumentação se encaminhar para a necessidade do envolvimento pessoal na coisa pública. Assim, como ponto fulcral, comecei por referir que estamos no tempo de questionar. Mesmo que as questões se coloquem no campo dos “absurdos”. Ou questionar o óbvio. O que importa, em última instância, é questionar. E só questionamos, porque não confiamos. Não acreditamos. Porque existem muitas e sérias dúvidas. Porque não se compreende determinadas decisões avançadas por quem deveria ser metódico, corajoso e visionário. Por quem tem a obrigação de conduzir o país pelo caminho do progresso e do bem-estar. Questionamos, porque o país não anda. Porque está emperrado. Porque não consegue desenvincilhar-se das teias da partidarite. Porque há nepotismo. E em democracia é uma afronta à transparência. Porque há pobreza. Porque os jovens partem desiludidos e revoltados para terras estranhas e porque vêem os seus governantes incapazes de lhes proporcionar condições de vida favoráveis para poderem aspirar a um presente digno e a um futuro condigno.

2 - Como matéria associada, apareceu o termo “radicalismo”. Talvez como sinónimo de “provocação”. Daí, questionar-se o que é “radicalismo”, no contexto social e político-ideológico.

Quem questiona, na velha cultura lusa, deixa de ser “elegante”, pois aprendia-se desde muito cedo a aceitar. A resignarmo-nos. E este padrão comportamental “salazarista” ainda está em vigor. Agora com umas nuances. Como bajular. Dobrar os joelhos. Dizer ámen. Ao questionar-se, a elegância fica de lado. Para não provocar e não ofender. Para não dizer não. Para parecer bem. No final, não concordando, devemos calar ou abanar com a cabeça em sinal de anuência?

3 - É preciso dizer não. Dizer não, muitas vezes. As que forem necessárias. Também dizer sim. Quando for sim. Sim e não. Sem evasivas. Sem se importar que as questões possam adquirir contornos de provocação. É preciso provocar. E questionar. Só assim progrediremos.

O que se passa neste país é triste. É urgente e necessário provocar. E questionar. Um partido minoritário socialmente domina todas as instituições do Estado. O PGR mudou por pressão, assim como o Presidente do TdC. Nomeou os Presidentes do BdP, SEDES e do CES. Nomeou as direcções de todas as entidades reguladoras e do IEFP. Indicou o nome para director da PJ e fez finca-pé que o seu “correligionário” fosse nomeado Procurador na União Europeia. Tudo tem feito para controlar a Comunicação Social e não deve haver instituição pública que não tenha a sua “inspiração” como acontece com todos os comandos da Protecção Civil. O polvo está instalado no país. Aproveita-se todos os momentos de crise para se coarctar a liberdade individual como aconteceu com o Covid. Agora com os fogos. É por isso que é preciso questionar. E provocar.

4 - Vou repetir “ad nauseam” que o país caminha seguro para a bancarrota. Assim, não vamos lá. Qualquer pessoa que tenha dois dedos de testa se apercebe que o abismo está a uns escassos centímetros. Basta olhar para a dívida da nação. É impossível continuar-se nesta trajectória e não cair no abismo. Um país inteiro que deve mais de 800 mil milhões de euros, fora a dívida financeira, não pode estar bom da cabeça. Basta pensar nos crescimentos económicos sempre anémicos. Basta pensar na produtividade e na competitividade. Basta pensar na despesa pública e na asfixiante carga fiscal. No número abismal de pobres. Basta pensar no país de velhos e de reformados que existe. Basta, enfim, pensar nos 741 mil funcionários públicos.

É preciso provocar este sistema iníquo. Este sistema andrajoso e pobre. Temos um país fabuloso e com um povo pobre. Uma vergonha! Incompreensível! Culpados? Não há, claramente!

É preciso questionar e provocar o sistema. É preciso perder a elegância política. Ou será melhor: ser pobre, mas elegante? Onde já ouvi isto?


Autor: Armindo Oliveira
DM

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24 julho 2022