“Feliz, feliz Natal que nos traz de volta as ilusões da infância, recorda aos mais velhos os prazeres da juventude e transporta o viajante de volta à própria lareira e à tranquilidade do seu Lar.” Charles Dickens - romancista inglês (1812 - 1870)
Por mais voltas que a “nova sociologia de Coimbra”, sociologia fundamentada em fracturas sociais e em novos tiques culturais, dê no seu combate ideológico e incomodado às vivências de índole espiritual, com particular destaque para as de matriz cristã, não consegue destruir a mensagem sempre criativa, presente e mobilizadora do Natal.
Não consegue, nem nunca conseguirá os seus intentos. Esta impotência resulta do compromisso de renovação constante que a essência do Natal nos convida e nos desafia a todos e cada um para assumirmos com clareza nesta caminhada terrena.
Se lhe juntarmos a onda artificial que lhe associaram, marcada pelo excessivo mercantilismo que atinge esta quadra, o Natal responde sempre de forma positiva com uma mensagem de paz e de reflexão, por ser claramente um momento mágico e simbólico na vida das pessoas.
As pessoas, no fundo, querem viver em paz e sossego, longe dos rebuliços ideológicos e dos afrontamentos politico-sociais muito característicos deste princípio de século, desencadeado por elites deformadas e arrogantes e por movimentos fundamentalistas que se esquecem, em primeira água, de respeitar os valores da vida, a fé de cada um e as ideias dos outros.
É aqui neste ponto que o Natal faz cada vez mais sentido, pois dimana, na sua génese, um testemunho de humildade e de amor. De confiança e de renovação espiritual. De esperança e de vivência partilhada. É nesta realidade que o simbolismo natalício se expande e se concretiza numa atmosfera benigna de conforto que se instala no meio social e mais intensamente no seio familiar.
Natal, como momento emblemático da família, diz sempre presente e logo numa altura em que esta célula social de extrema importância para a vitalidade de um país e de qualquer comunidade sofre os maiores atropelos na sua aparente debilidade. Sim, só aparente debilidade, porque a sua matriz é sempre renovadora.
É no aconchego do lar, na simplicidade da quadra, na capacidade disponível para partilhar afectos, no espírito de rejuvenescimento que lhe está inerente que o Natal se impõe como um acontecimento excepcional de inteligência, de boa-vontade e de paz. O exemplo grandiloquente desta realidade foi-nos dado pela Sagrada Família de Nazaré e é nos dado, todos os dias, por todas as famílias que conseguem enfrentar as dificuldades, criar, educar, acompanhar e formar os seus filhos, apesar das incongruências que vão surgindo artificialmente no caminho.
Natal, como momento de reflexão por excelência e também numa altura em que o exibicionismo, o egoísmo e as ambições desmedidas e grosseiras surgem no palco da vida sem racionalidade e praticamente sem barreiras, atrofiando a natural libertação das pessoas que aspiram simplesmente a ter um quotidiano sem sobressaltos.
Natal, como momento singular de paz, num mundo em constante desassossego e cada vez mais radicalizado. Não há mesmo tempo nesta vida frenética e escorregadia, assim parece, para parar uns instantes e reflectir na caminhada breve que encetamos e muitas vezes caminha-se às cegas e sem sentido em busca de nada. A vida não é um vazio. A vida tem um desígnio transcendental e um propósito terreno de nos permitir usufruir destas maravilhas naturais que nos foram cedidas temporariamente pelo Criador.
É preciso, portanto, voltar a sentir o Natal. Aquele Natal das ilusões das crianças, dos sorrisos da juventude, dos sonhos das famílias e da paz dos mais velhos na tranquilidade dos seus lares. É preciso entender a mensagem sublime do Natal, para que a simplicidade e a autenticidade se manifestem cordialmente na vida de cada um. É preciso que haja Natal sempre. É preciso mesmo. É preciso.
Autor: Armindo Oliveira