Professor universitário aposentado
É outra vez Natal! A despeito da pandemia, das suas limitações, dos seus medos e até dos seus lutos, as ruas engalanam-se, as luzes cintilam, o comércio anima-se, as ruas enchem-se, abastecem-se as despensas, compram-se e trocam-se presentes e, em muitos casos… gastam-se os últimos cêntimos. Mais do que uma festa, é um festival pagão de consumo e da alegria postiça que o consumo dá. «E toda a gente é contente porque é dia de o estar» – como disse Fernando Pessoa. Até os meninos – a quem impingem a dupla ficção de um Pai Natal que lhes traz presentes: nem o Pai Natal existe e muito menos é ele que dá presentes aos meninos.
Tudo isto é um embuste que, mais do que desvirtuar, oculta e esquece a razão de ser e o sentido íntimo, primeiro e último, do Natal – a celebração do nascimento de Jesus Cristo.
Na sua origem e na sua essência é uma festa cristã, que se funde com a civilização ocidental que o cristianismo moldou. Mas que se estendeu a outras civilizações e culturas, mesmo que de outras religiões, assim se tornando uma festa universal de cristãos e não cristãos, de crentes e descrentes.
Mas essa origem e essa essência não pode – em homenagem e fidelidade á verdade histórica – ser esquecida e, muito menos, ocultada.
Contudo, muitas têm sido as tentativas de paganizar a festa, de lhe ocultar a origem e o sentido, de a desenraizar historicamente e de a perverter doutrinariamente.
Os exemplos são muitos mas, por economia de espaço, fixemo-nos apenas em dois.
Proclamada a República em Portugal, em 1910, logo a sua sanha anticlerical se manifestou abolindo os chamados «feriados religiosos». Mas abolir o Natal era de tal forma impopular que se tornava impossível. E então o dia 25 de Dezembro foi mantido como feriado sob o pretexto de ser… o Dia da Família!!! (Não de Natal)
Mais recentemente, aliás muito recentemente, a Comissária Europeia para a Igualdade – a senhora Helena Dalli – propôs algumas directivas para uma «linguagem inclusiva» entre as quais a abolição da palavra »Natal» para estas festas, alegando que muitos europeus não são cristãos e que muitos outros nem sequer são crentes. Eis como – por fanatismo ideológico – se mascara um facto histórico.
Objectivamente, verdadeiramente, historicamente, o Natal é a celebração festiva que os cristãos fazem do nascimento de Jesus Cristo. Mas todos são bem vindos à festa, cristãos ou não. E todo o brilho exterior é legítimo desde que se não perca o sentido íntimo do que se celebra. Substituir este por aquele é falsear tudo.
O Natal é isto. Pretender que seja outra coisa ou é trapaça, ou é mentira, ou é ignorância, ou é má fé. Ou qualquer coisa mal resolvida. Ou ainda uma tóxica mistura de tudo isto.
Nota: por decisão do autor, o presente texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico.
Autor: M. Moura Pacheco