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E Lilián de Celis, alguém sabe quem foi?

  1. As duas únicas vezes que entrei no casino de Espinho).Nunca tive inclinação para jogos de azar; é raro até jogar no euromilhões, totobola ou similares. Em casinos então, nem pensar. Daí que, a 2.ª (e última) vez que fui a um casino (em Espinho) tenha sido já há bastantes anos. Foi assim. Nessa altura estagiava eu para advogado, no escritório do dr. Fernando Fonseca, ao lado da câmara do Porto. Por lá passara, por exemplo, o inventário do dr. Sá Carneiro (em vida, eram amigos); e o divórcio do prof. Pinto da Costa, irmão “de sua Ex.cia”. Então, num determinado dia de primavera, caíram na caixa de correio do escritório as cartas que notificavam o dr. Fonseca da sua vitória em 3 ou 4 grandes pleitos (tudo no mesmo dia). O veterano advogado de Cesar (Oliv.ª de Azeméis) logo mandou “parar os trabalhos” e convidou os colegas e os estagiários presentes para um jantar no dito casino, situado na terra do, então muito jovem, dr. Luís Montenegro. Por lá jantámos e assistimos a algumas variedades. E daí até hoje nunca lá voltei. Já sobre a 1.ª vez que lá fui, falo a seguir.

  2. A 1.ª vez que entrei no casino de Espinho).A 1.ª vez que lá entrei não foi para ver, mas sim, para “actuar”. Não sei até, se o insucesso dessa minha “performance” não tenha contribuído (digamos, como “pequeno trauma de infância”) para a noção de que, como explicar, a alegria ou tristeza das multidões pouco me aquece ou arrefece. Se eu acho que estou certo, eu sigo o meu caminho, mesmo que ele seja diferente do geral. Prova disso foi que, 1 ou 2 anos depois , à entrada do 1.º dia da escola primária (no célebre Campo 24 de Agosto, no Porto), a maioria dos futuros colegas (num tempo em que não havia ainda infantários ou jardins-escola) choravam “que nem Madalenas” e eu, estóico, cerrava os dentes e subia aquela escada sem “mariquices”, passe a expressão. Mas o que se passara então no casino de Espinho? Foi assim: a minha mãe e minha madrinha (tia-avó materna e por afinidade) ensinaram-me vagamente duas cantigas. Não ensaiei, não treinei e quando chegou a minha vez, eu espantei-me com o facto de estar toda a gente impaciente e a olhar para mim. E esqueci-me completamente das duas cantigas. Uma delas, aliás, era muito brejeira; era “O mar enrola na areia”, mais própria para um qualquer “pequeno Saul” que para mim. Depois, fiquei para ali só e desacompanhado, tendo as outras crianças açambarcado os melhores presentes, numa corrida egoísta e oportunista.

  3. Mas que tem isto a ver com Lilián de Celis?). Há poucos anos, numa noite sem sono, aí pelas 2 da manhã, ouvi na onda média da C. Cope, ou na R. N. de Espanha, umas canções muito antigas, que o apresentador definia como “chotis” ou sobretudo, “cuplés” dos anos 50. A voz extraordinária, aguda mas forte, parecia vir do fundo dos tempos. E era duma tal Lilián de Celis. Poucos meses depois, consegui mandar vir um triplo CD com 55 canções da própria. Que incluíam temas como “Rosa de Madrid”; “Que la mar es muy traidora”; “La panderetera”; “Agua que no has de beber”; “Batallón de modistillas”; “Flor del mal”; “La Chica del 17”; “El lindo Ramón”; “La cruz de guerra”; “ Quadros disolventes”; “La manola”; “Amores lagarteranos”; “El relicario”; “La violetera”; “e uma canção chamada “A hierro muere” (de Alaris/Auli/Arroyo) cuja melodia era igual à do tal “O mar enrola na areia”! Lilián estava pois misticamente ligada ao meu “velho” desaire espinhence.

  4. A minha 2.ª ligação “mística” com a diva asturiana).Há algo maior, que não posso revelar aqui. Porém, basta dizer que a cantora casou no dia dos meus anos (a 4 de Julho) mas bem antes de eu ter nascido. Lilián de Celis Colía veio ao mundo em 31-1-1935, no lugarejo de Fíos, perto de Arriondas, a 10 Kms do Cantábrico e a outros tantos de Cangas de Onís, onde em 715 d. C. o guerreiro espanhol Pelágio derrotou pela 1.ª vez os invasores marroquinos, desembarcados em 711. Filha de um comerciante que foi viver para Santander, mas cuja loja pereceu no grande incêndio de 1941. Acompanhou o pai para Madrid (o qual entrou para o ministério das Finanças). Aí se revelou, em 52, num programa radiofónico que anunciava caramelos (!) e que foi repescar ao início do séc. XX, uma melodia que desde os anos 30 caíra em desuso, o “cuplé”. Casou pois em 1953 com o famoso maestro Monreal, teve um êxito enorme, viveu alguns anos no México (onde também fez filmes) e só regressou nos anos 70, já meio esquecida pelo público espanhol. Apesar de tudo, em 1995 teve ainda bastante êxito num canal de TV madrileno, num espaço semanal revivalista, dedicado ao “cuplé”.

  5. Outro casamento no dia dos meus anos).A 4 de Julho dum ano já remoto, casou também o meu tio-avô Alfredo, comandante da Marinha e tenente-coronel piloto aviador, com a única irmã do locutor Fernando Pessa (Mª Palmira Catela de Miranda Pessa). Faz este ano 100 anos que, quase criança, ele participou nas “incursões monárquicas” falhadas, em T. os Montes. Fugiu então para o Porto, a pé. Na 2.ª Guerra Mundial, salvou muitos náufragos em Portugal (sendo condecorado pela França). Quando eu estudei (“com intervalos”) em Lisboa, muitos domingos passei com este casal que não tinha filhos. O programa era normalmente um passeio pelos arredores da capital (num velho Isabella Borgward beje), precedido de frugal almoço no andar (não longe do Campo Pequeno) que mais tarde, por morte da tia Palmira, foi vendido pela família, nada menos que ao casal M. M. Carrilho- Bárbara Guimarães…


Autor: Eduardo Tomás Alves
DM

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5 março 2019