A pandemia do COVID-19 conduziu a uma situação diversificada, em diversas áreas, trazendo problemas adicionais à situação que o país já atravessava, devido ao desinvestimento público, para atenuar o deficit e apresentar resultados sedutores para a economia do país.
Esta política agravou a vida das famílias, principalmente da classe média, em progressiva perda de qualidade de vida e económica, a qual é a principal criadora de riqueza, através de um populismo malabarista e com discursos políticos cativantes, principalmente para determinados núcleos populacionais, que se deixam induzir por este tipo de atividade, com promessas e incumprimentos.
É altura dos governantes pensarem como recuperar Portugal, utilizando os fundos comunitários para recriar a produtividade, apoiando as pequenas e médias empresas, facultando incentivos e meios para implantação de outras com sentido inovador, principalmente direcionadas para reocupar o interior diversificado, havendo já uma certa tendência de famílias e jovens, com experiência e formação, ali se instalarem.
Esta tendência é devida ao desemprego e à pobreza que cada vez mais se acentua no país, ao mau estar psicológico provocado pela pandemia, mas que pode ser aproveitada para reocupar aldeias e vilas, em via de total abandono, mediante incentivos para aquisição ou recuperação de casas abandonadas ou mesmo propriedades para ali instalar atividades agropecuárias ou empresas diversificadas, algumas delas inseridas no teletrabalho para o país ou internacionalmente.
Será uma forma de contribuir parcialmente para a descentralização do país, dando mais autonomia às autarquias e principalmente às Comissões de Coordenação das Regiões, com competência e capacidade para gerirem os fundos comunitários e selecionarem os investimentos mais apropriados de viabilidade económica local ou regional, geridos pelas entidades regionais ou autárquicas, direcionadas para a criação de emprego público ou privado.
Portugal precisa de se recriar com políticas descentralizadoras concretas e de implantação pragmática, sem refúgio na exagerada burocracia e servindo-se de técnicos competentes e sabedores, nas diversas áreas de intervenção, oriundos ou vivendo nas áreas administrativas. É preciso um espírito inovador, com governação pragmática, com incidência de projetos para o interior, públicos ou privados, aproveitando as vias de execução mais acessíveis e dentro do um espírito de interligação com os cidadãos, mediante atribuição de subsídios para cativar a fixação de uma população motivada para reocupar o interior, assim como reduzindo os impostos e criando outros incentivos motivadores, pois há muito quem queira deixar o litoral e as grandes cidades, mas é necessário dar condições motivadoras e que para o efeito sejam reinstalados os serviços de apoio necessários nas diversas áreas, fundamentais para cativar o retorno das famílias e cidadãos aos locais ou regiões em progressiva desertificação.
O interior tem vindo a perder população a partir de políticas erradas seguidas por diversos arcos de governação, há décadas atrás, que originou a extinção de postos de trabalho, tais como guardas florestais, com as consequências daí advenientes, cantoneiros e guarda-rios, necessários para controlar a poluição acelerada das bacias hidrográficas.
Também ao procederem ao encerramento de determinados serviços prestados por entidades oficiais, em diversas áreas, assim como dos CTT, da Caixa Geral de Depósitos, contribuíram fortemente para os habitantes de locais mais isolados repensarem o seu futuro e dos seus descendentes.
É de relembrar como se reocupou o interior e promoveu o seu grande desenvolvimento após a descolonização, principalmente das colónias africanas, quando mais de meio milhar de cidadãos tiveram que regressar a Portugal, sem dinheiro e sem meios de subsistência, mas foram eles que desenvolveram o interior do país, tendo contribuído para o crescimento económico com a sua experiência e o seu saber para ultrapassarem uma situação imprevista e dolorosa, em que tiveram de reiniciar a sua vida, com grande sofrimento familiar e pessoal.
Nas colónias deixaram os seus bens e uma vivência rica nas áreas social e económica, criada ao longo de séculos originária dos seus antepassados ou desenvolvida pelas gerações mais recentes, ali fixadas, incluindo também autóctones, com mestiçagem populacional, em que os governantes não souberam negociar uma saída digna ou uma permanência no país independente, para prosseguirem com as suas atividades económicas, a bem dos países de origem lusófona e contribuindo para prosseguir com melhores condições de vida para a população autóctone, mas dentro da observância legal dos países independentes.
Portugal dispõe de uma oportunidade não repetível, considerando os problemas causados pela pandemia, que fragilizou núcleos populacionais nos grandes centros, para os motivar a recuperar espaços desabitados, mediante um planeamento adequado dos fundos comunitários, PRR e 20/30. Competiria às Comissões de Coordenação Regionais, mediante enquadramento de técnicos competentes e conhecedores das regiões, implantar e acompanhar os projetos mais adequados aos locais da sua inserção.
Autor: Bernardo Reis