twitter

E depois admiram-se?

Quando o ano corre apressado e já se vislumbra o Natal, é tempo de pensar sobre o que se passa no mundo que tantas vezes nos abala e inquieta.

É tempo de pensar na família, nos amigos e, particularmente, nas crianças que em diversas paragens padecem as crueldades da guerra, da fome e da pobreza.

É tempo de estar vigilante e atender às transformações que estamos a observar e não nos deixarmos abater pelos sinais que diariamente nos chegam e nos perturbam.

Sinais e realidades que diariamente nos alarmam e nos questionam. Porquê tanto mal? Que razões para tanto retrocesso? Para onde caminhamos?

Quando vemos povos europeus a abraçar governos populistas de matriz autoritária e xenófoba, quando observamos o presidente norte-americano, Donald Trump, a pôr em cheque a ordem mundial em cada dia que passa, quando testemunhamos Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chavez como presidente da Venezuela, a espezinhar o seu povo e a sujeitá-lo à mais bárbara miséria, ou ainda quando olhamos para África e verificamos que os conflitos no Iémen e na República Centro-africana parecem intermináveis e são um rasto permanente de sofrimento e de dor, temos de nos inquietar.

Quando vemos o Brasil, o maior país de língua portuguesa, com um povo caracteristicamente alegre e folgazão, profundamente dividido na refrega do ato eleitoral que elegeu Jair Bolsonaro para dirigir o seu destino, desconsiderando os riscos de entregar o poder a quem parece não respeitar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, nem a liberdade e a democracia, havemos de perguntar para onde vamos.

Quando vemos zurzir no polícia porque expôs o ladrão, criticar o professor que na turma falou mais alto, reprovar a atitude do pai por não ser permissivo com o seu filho, ou ainda censurar o chefe por lembrar que é preciso cumprir as regras estipuladas, consideramos estar a discutir a ordem natural da salutar convivência social.

Quando vemos uma sociedade mais preocupada em romper com ancestrais valores e tradições, em dar prioridade e colocar em agenda temas que pela sua natureza fraturam e dividem a sociedade e relegam para plano secundário o respeito e a dignidade da vida humana, possuímos o direito de saber para onde nos querem levar.

Quando entre nós se considera um sucesso a implementação da Interrupção Voluntária da Gravidez no Serviço Nacional de Saúde e faltam políticas de incentivo à natalidade, ou não se criam subsídios e outros apoios para quem renuncie pôr termo a uma gestação não planeada, não estamos a construir um futuro promissor.

No cerne destas e de tantas outras questões tão pertinentes como angustiantes, ouso perguntar: admiram-se?

Não nos devemos surpreender que na Europa e um pouco por todo o mundo floresçam movimentos de natureza ultraconservadora, racista e xenófoba e que motivam receio e até algum pânico em quantos apreciam e cultivam os valores da liberdade.

Entre outros, Donald Trump, nos Estados Unidos da América, Viktor Orban, na Hungria, Matteo Salvini e Beppe Grillo, na Itália, Marine Le Pen, na França e Jair Bolsonaro, no Brasil, não serão certamente apenas expressões concretas resultantes do medo, do desencanto e da insegurança.

Outros e mais profundos motivos estarão no cerne desta perigosa mudança, como a corrupção que proliferou em muitos centros de poder, ou os fenómenos migratórios que acrescentaram novos e graves problemas financeiros e religiosos, principalmente, em tempo de crise económica.

Esta breve reflexão sobre as transformações sociais que estamos a assistir neste já longo princípio do século XXI é não só um imperativo de quem preza a liberdade, mas também um meio de ajudar a consciencializar os meus concidadãos para os perigos que nos podem bater à porta.

As suas causas serão múltiplas e variadas. No entanto, acredito que na sua génese está, muitas vezes, a total inversão de valores que prolifera nas nossas sociedades.


Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

DM

30 outubro 2018