Dentro de algum tempo estaremos de novo na rua! De novo, a exprimir a nossa vontade, como democratas, em mantermos a chama viva de um trabalho que é, antes de mais, um hercúleo coletivo em torno de uma única mensagem: viver a Democracia como um direito e um dever.
Seremos chamados às urnas para outorgarmos com o nosso voto, aquela que é a legítima expressão da vontade das cidadãs e dos cidadãos e, tal como aconteceu nas recentes eleições autárquicas, a fazê-lo no estrito cumprimento de uma saudável disputa de ideias e de valores políticos tão caros quanto a ousadia pouco democrata dos que assombram a bandeira negra, com a mesquinhez e as insuficiências do regime, como forma de estar em sociedade.
Braga deu o exemplo com o sobressalto cívico que irrompeu a 25 de Abril e não podendo aquilatar, neste momento, a verdadeira dimensão da abstenção, dada a confusão instalada com a inclusão nos cadernos eleitorais dos milhares de portugueses que vivem e trabalham fora do país, só nos resta focar o nosso trabalho na continuidade do que foi a “batalha” democrata que encetamos juntos ao longo de cinco meses. Mesmo que a diferença entre a abstenção técnica e a abstenção real nos abra às portas à esperança de que A Democracia agradece. Quero crer que a nossa campanha chegará mais longe, sobretudo aos que influenciam negativamente a Democracia com a sua Indiferença. A este propósito, a semana que agora finda ficou marcada por dois episódios, antagónicos entre si, mas reveladores de como é possível que os mais experientes, pelo acumular de anos de vida, podem, para o bem e para o mal, serem protagonistas nesta demanda. Confrontado com o anúncio de novas eleições, um funcionário de balcão de um café exibia à boca cheia que lá em casa ninguém ia a votos. Como? – Nem eu nem a minha mulher, nem os meus filhos votamos! Percebi desde logo que o seu argumento faz parte da lista das queixas mais comuns em que toda a classe política é embrulhada: “é tudo mau”. A minha preocupação, ao ouvir aquele cidadão, foi dupla; por ele e pela cidadã, mas, mais preocupante, pelos filhos que atenderam aos argumentos dos pais. Quantos por aí?! – São aos milhares. Perante este total desconforto e pese embora os argumentos que lhe apresentei, estou convencido, pela sua reação no dia seguinte, que se abriu uma oportunidade para voltar a falar com ele e assim farei. O contraste não podia ser maior quando recebi um telefonema de uma cidadã de Vieira do Minho a convidar-me para ir ao seu concelho, e abordar esta temática. Leonor Coelho, assim se chama, preocupada aos 84 anos, com o rumo da Democracia e o exercício da Cidadania. Pelo seu exemplo e pela sua coragem ia ao fim do mundo para ajudar a comunidade onde vive a perceber a importância da participação cívica e política de todos. Tanto mais, que a sua preocupação se centra nos cerca de 28 por cento da população que não foi às urnas, quando em Braga rondou os 43 por cento (?) e no país superou os 45 por cento. É uma motivação extra ao refletir sobre a preocupação que esta cidadã manifestou. Estou desejoso de ir a Vieira do Minho para perceber como os indicadores da abstenção são tão baixos face à realidade urbana do país. Quero publicamente agradecer a sua preocupação mobilizadora que me remeteu, desde logo, para um outro episódio, este mais preocupante, ocorrido na Alemanha, há mais de uma década, quando uma cidadã tão experiente quanto a Leonor, veio à televisão pública, preocupada, nos seus 85 anos, com os extremismos políticos que se avolumavam naquele país para dizer que “pensava não ter de regressar às urnas”, mas que a situação assim a obrigava. Respondo-lhe Leonor como gostaria de ter respondido àquela cidadã: todos somos precisos, a cidadania não tem idade, mora a cada dia que passa, na rua, na praça, em casa. A cidadania é a elevação maior da Sociedade, a que lhe granjeia a condição sublime do ser, do estar e do fazer em Democracia. Hoje, ao escrever este texto, renovo em pleno a Minha condição de Candidato Contra a Indiferença. Lá estaremos todas e todos para mais uma batalha. Será sempre mais uma, será sempre nossa, pela Democracia, pela Cidadania, pelo país.
Autor: Paulo Sousa