No mês de Dezembro, cada vez mais próximo de nós, vamos viver duas solenidades da maior importância na liturgia da Igreja.
A primeira é já no próximo dia 8, a Imaculada Conceição. Nela, celebramos o facto de a Mãe de Jesus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade que encarna, isto é, que assume a natureza humana, no seio da Virgem Maria, isentar a sua progenitora daquele pecado com que todos nós nascemos, o pecado original.
Pode parecer-nos um pouco intrigante que Jesus, para ser homem, não seguisse o curso normal de todos nós, isto é, que não tenha nascido com o pecado original, e dele libertasse Nossa Senhora. Lembremos que qualquer pecado é uma imperfeição, algo que está mal e não devia ser assim. Deus, ser perfeitíssimo por essência, não é compatível com o que possa denegrir a sua natureza. Por isso, esta opção de nascer Ele e a sua Mãe com absoluta isenção de pecado, é uma exigência desta condição divina e não uma espécie de privilégio altivo de alguém que quer impor e manifestar total superioridade em relação aos seus congéneres humanos.
Se olharmos com alguma atenção para a segunda grande solenidade deste mês, o Natal, verificaremos imediatamente que o Deus encarnado não se serviu de qualquer estratagema humano, mesmo legítimo e aceitável, para dele tirar partido e assim fazer valer a sua influência sobre os homens. Pelo contrário, Jesus Cristo impõe-Se apenas pelo que é, pelo que faz e pela sua doutrina. Não necessita de outros recursos para cumprir a missão que O trouxe à terra.
Onde nasce? Num estábulo, num curral de gado, que não é uma habitação humana, mas um lugar destinado a animais. Quando, em Belém, S. José, preocupado com a eminência do parto de sua esposa, pede a compreensão do estalajadeiro, que se mostra insensível, e, provavelmente, já na cidade, recorre a eventuais parentes e pessoas amigas (há quem defenda que o marido de Maria seria natural de Belém), a resposta que recebe é, como diz o povo, “a porta na cara”. Ninguém se interessa, ninguém tem compaixão, perante aquela aflição de um casal modesto, sobretudo do chefe de família, que vive uma situação de angústia e não encontra solução. Imaginamos, depois de tanto esforço, o desalento e a tristeza de José ao encontrar apenas um presépio como lugar possível para o nascimento de Jesus. Maria sossega-o, que não se aflija, que tudo irá correr bem. E ele pede a sua mulher que tenha paciência, que aguente mais um bocado de tempo, enquanto tenta limpar, arranjar, dar um tom mais humano àquele estábulo pouco asseado, para que Maria traga à luz do mundo o Salvador.
Apesar de nascer num lugar tão pobre, a sua existência não deixa de ser invejada e malquista pela autoridade despótica dum rei tirânico, que O obriga a Ele e aos pais, nos princípios da sua existência terrena, a fugir subitamente para o Egipto, porque O quer matar. Instala-Se mais tarde, ainda criança, em Nazaré, onde cresce e tem um dia a dia perfeitamente rotineiro e normal. É um filho dum artesão e, depois, Ele mesmo, artesão. Não chama a atenção. Mas começa uma vida diferente, quando tinha aproximadamente trinta anos. Reúne discípulos (quase todos homens muito simples e sem qualquer relevância social), ensina-os, encanta muita gente com a sua palavra e as suas acções: mostra o seu poder sobre as doença e a própria morte, pois ressuscita pessoas. As autoridades israelitas inquietam-se com a sua presença e com o que d’Ele ouvem. Entram em conflito com Jesus e acabam por conseguir que a autoridade romana O condene à morte na cruz. Com esta determinação trágica, parece que tudo se esfumou. Mas Ele manifesta que é Senhor da vida e da morte, pois ressuscita ao fim de três dias, como tinha predito. Envia depois os seus discípulos a ensinar o que Ele lhes tinha ensinado. Assim o fazem, disseminando a Igreja por Ele fundada, até aos dias de hoje e enquanto durar a humanidade.
Repetimos: humanamente, Cristo não tem outra valia além da sua própria vida, do seu exemplo e daquilo que ensina. Não é uma pessoa importante socialmente. É Deus que encarna e nos dá uma lição de humildade e simplicidade eficassíssima
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva