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Duas caras

Penso e sinto que os jogos políticos são uma tristeza. Saber jogar neste tabuleiro com peças viciadas é uma ciência mafiosa. Os que sabem que é assim mesmo e completam o naipe de jogadores, é um ato que a cada um pertence, mas tem de saber que estão a ser cúmplices de um ludíbrio social. Quem entra no jogo é porque sabe jogar, agora quem o suporta são os eleitores; os jotinhas, quer sejam da esquerda, quer sejam da direita, aprendem a jogar este jogo? Todos de cérebros são lavados. Todos os dados estão viciados. É um esbulho e uma falta de honestidade. Os que entendem o que está em jogo e, porque assim o entendem, mais depressa sobem na hierarquia do partido. Mas há os ingénuos que pensam estar a defender uma causa: estes são figurantes, os outros são figurões. Na verdade nada disto seria preciso, e esta preparação seria considerada excessiva e dispensável, se a honestidade do político fosse igual à honestidade do sujeito. Mas não é assim, tanto nos personalistas/individualistas como nos marxistas; estou farto de ouvir dizer que o político tem uma mentalidade dupla e isto é um desastre. Esta dualidade é nojenta. E assim é, e parece que é, então a água que jorra da fonte já vem inquinada. Sem nunca ter passado por esta escola, sei que quando os novos se fazem políticos velhos copiam os mesmos jeitos e trejeitos dos seus preparadores; logo, esta escola formata consciências e atitudes. Por que razão entendemos que não é preciso escolas de formatação política? Porque governar é tão simples, e tão perto do bom senso, que basta atuar em prol da sociedade, para verificar que a existência da escola de formatação só serve para embaciar o espelho. Nada me convence da complexidade da governação. É evidente que requer estudo de vários dossiês e estes muitas vezes vêm artilhados de sub-reptícias alíneas e questões; o governante tem de ter, no seu stafe, alguém entendido em desenrolar estes novelos. Para qualquer proposta deve o governante a colocar a si esta questão: que lucra a “minha” sociedade com isso? E não perguntar, que lucra o meu núcleo com isso? Causa-me tristeza que isto tenha sido assim; e mais tristeza ainda saber que vai continuar assim. Por decoro e respeito por todos nós, ao menos não digam que é para bem do povo porque é ele quem continua a pagar as favas das vossas messes. Há tempos um político local perguntava em público o seguinte: não aparecem, somos nós que estamos lá: Uma oferta e um incentivo a criar uma possibilidade de favor. O silêncio deu-lhe a resposta, mas os olhares e meios sorrisos críticos, tinham a eloquência que faltava à decência do interlocutor. Causa-me tristeza pensar que alguns anos atrás eu votei numa lista de que este senhor fazia parte. Se a lista fosse nominal nunca mais receberia o meu voto, agora embrulhado no cardápio partidário, em lugar elegível, se votar, voto pelos outros e não por ele, mesmo sabendo que ele continua a ser indecente. Se houvesse a possibilidade de o cortar na lista, sem tornar nulo o boletim de voto, isso mesmo eu faria. Como diziam os velhos da minha aldeia: não se olha ao burro, olha-se à argola em que ele está preso. Pois é verdade, mas o burro continua a zurrar. Causa-me tristeza ao pensar que como este político desastrado, muitos outros rezam pela mesma cartilha. Deixem-me dar um suspiro de resignação que é a eructação da alma. Não cura mas alivia. Tanta tristeza junta só dá para tornar a mágoa maior.


Autor: Paulo Fafe
DM

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19 julho 2021