Esta semana o futebol europeu sofreu um enorme abanão. A criação da Superliga Europeia de futebol, por pressão de alguns grupos financeiros norte-americanos, os “donos da bola” dos grandes clubes europeus, abalou as grandes estruturas da modalidade, fez reagir a classe política, mas igualmente despontou a contestação dos verdadeiros e genuínos interessados no futebol, os seus adeptos. O início da derrocada desta megalomania, repleta de interesses económicos, começou nas ruas. A história é rica em revoltas do povo contra a segregação e a discriminação. O povo é o “dono disto tudo”. Esta ideia de uma liga segmentária e elitista transborda ganância, é um manifesto de quem quer ter o poder de determinar quem joga ou fica a ver.
É evidente que a pandemia veio carregar todos os clubes com dificuldades de tesouraria, porque os adeptos deixaram de ir aos estádios, a publicidade retraiu-se e mesmo alguns sócios deixaram de pagar as cotizações. São precisas medidas extraordinárias para ajudar os clubes, o desporto na sua globalidade, para ultrapassar esta grave crise, mas não se trata só do futebol, nem só de 12 clubes que estão nessa situação. O desporto deve ser um fenómeno simples, inclusivo, abrangente, assente na diversidade e na valorização do mérito, e pessoalmente o que mais critico é o aproveitamento do fenómeno para alimentar alguns poderes, esquecendo-se da essência e da sua importância para a sociedade, olhando-o apenas como um produto de mercado. A afirmação mais representativa desta convulsão surgiu do jogador belga, De Bruyne, do Manchester City, que afirmou: “Sabemos que isto tudo é um negócio. Mas, ainda sou um garoto que só ama jogar futebol”.
Toda esta encenação, pode ter um fundo de pressão estratégica dos clubes sobre a UEFA e a FIFA, tentando que estas instituições encontrem mais soluções para fazer face às pesadas dívidas que os assolam, mas o que está apenas em causa são os interesses elitistas de um pequeno grupo de clubes, provenientes de apenas três países, esquecendo os restantes países europeus e muitos dos clubes de referência. Em Portugal, muitas pessoas se insurgiram contra esta atitude discriminatória na constituição desta Superliga Europeia, no entanto e na verdade, se analisarmos friamente a realidade nacional, nomeadamente, no financiamento dos direitos televisivos, no apoio e editorial jornalístico, em algumas decisões sancionatórias por parte das entidades desportivas, parece existir uma “superliga tuga”, com apenas três clubes, esquecendo um grande número de outros clubes de referência e com história de relevo.
Esta semana, também o Judo nacional esteve em destaque, pelos resultados obtidos no Europeu da modalidade que decorreu na capital portuguesa, mas também pela excelente organização do evento. O destaque maior vai para a Supercampeã Telma Monteiro e para mais uma medalha de ouro. Tem uma carreira digna e extraordinária, repleta de sucessos, persistência e longevidade. É um orgulho incrível termos uma atleta e um exemplo assim. Apesar de estar habituada aos grandes palcos e a lutar pelos primeiros lugares, continua a manifestar uma paixão incrível pelo que faz e a sentir cada momento com a intensidade dos grandes atletas.
Autor: Carlos Dias
Donos disto tudo

DM
23 abril 2021