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Dois santos que pecaram

1. Celebramos amanhã a solenidade de S. Pedro e S. Paulo. S. Pedro, pescador da Galileia, natural de Betsaida, conheceu Jesus por intermédio de seu irmão André (Marcos 1, 16-18). Deixou tudo para O seguir e integrou o grupo dos Doze Apóstolos. Começou por se chamar Simão. Jesus mudou-lhe o nome para Pedro, vendo nele a rocha sobre que edificaria a Sua Igreja (Mateus 16, 18). Nos momentos dramáticos da Paixão vacilou. Tendo prometido a Jesus quo O não abandonaria em circunstância alguma (Marcos 14, 29-31), negou conhecê-lo, diante de uma das criadas do Sumo Sacerdote (Marcos 14, 66-71). Reconhecido o erro (Marcos 14, 72), emendou-se, e veio a morrer por Jesus. S. Paulo nasceu em Tarso (Atos 21, 39), na Cilícia (atual Turquia), de uma família judaica. Começou por se chamar Saulo e foi um grande perseguidor de cristãos, como o próprio confessa (Gálatas 1, 13-24). Convertido a caminho de Damasco (Atos 9, 1-30), pelo ano 36, também ele deu a vida por Jesus, depois de ter evangelizado sobretudo os pagãos, durante 30 anos. Pedro e Paulo. Duas pessoas que, tendo-se encontrado com Jesus em circunstâncias desiguais, se tornaram seus discípulos fervorosos. Diferentes pelo temperamento e pela cultura, viveram unidos pela mesma fé. Perseguidos por serem cristãos, ambos foram martirizados em Roma, durante a perseguição de Nero. 2. Recordamos dois homens que não nasceram santos. Dois homens que, como disse, cometeram faltas graves. Dois homens que, tendo reconhecido os próprios erros, se arrependeram e procuraram emendá-los. Quando frequentei o Seminário de Nossa Senhora da Conceição, na capela que hoje não existe, havia a imagem de um santo que me impressionou particularmente: São Domingos Sávio. Era o único vestido à homem, de calça e casaco! As outras imagens apresentavam os santos com vestes, para mim, muito estranhas. Há que tomar consciência de que os santos não foram uns extraterrestres. Foram pessoas como as demais. Com o seu temperamento e, em muitos casos, as suas fragilidades. Mas pessoas que se souberam dominar e vencer. Passaram pela lama sem se enlamearem. Ou, se tal aconteceu, desenlamearam-se logo que puderam. 3. Na Exortação Apostólica «Alegrai-vos e Exultai» o Papa Francisco lembra o chamamento universal à santidade. Escreve, no número 14: «Para ser santo não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais». Para ser santo não é preciso fugir do mundo, mas saber estar no mundo sem se mundanizar. Não é preciso fazer coisas extraordinárias. Preciso é, por amor a Deus e ao próximo, saber fazer extraordinariamente bem as coisas simples e vulgares de cada dia. Para ser santo é necessário confiar na misericórdia de Deus, para quem, desde que haja arrependimento e propósito de emenda, não há falta que não tenha perdão. 4. A celebração de S. Pedro e S. Paulo convida também a pensar nos vários ministérios existentes na Igreja. Sendo diferentes, são complementares. Pedro presidiu às comunidades na unidade e na caridade; Paulo dedicou-se à evangelização das diversas culturas. No corpo místico de Cristo que é a Igreja há uma função para cada um de nós. Que nos não acomodemos nem instalemos. Que saibamos, não por vaidade mas com espírito de serviço, fazer bem tudo e só o que nos compete.
Autor: Silva Araújo
DM

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28 junho 2018