A doença inflamatória intestinal refere-se a um grupo de doenças com inflamação crónica do intestino e inclui a doença de Crohn e a colite ulcerosa. A doença de Crohn pode afetar qualquer segmento do tubo digestivo desde a boca ao ânus, embora atinja mais frequentemente a região terminal do intestino delgado. Clinicamente caracteriza-se por dor abdominal associada a diarreia crónica (>4 semanas).
A colite ulcerosa afeta apenas o intestino grosso numa extensão variável a partir do reto. Clinicamente caracteriza-se por diarreia associada a perda de sangue pelo ânus. Ambas as doenças evoluem com períodos de atividade intercalados com períodos de inatividade e podem também atingir outros órgãos como as articulações, pele, olhos e vias biliares.
A doença inflamatória intestinal pode surgir em qualquer idade, mas aparece mais entre os 15 e os 30 anos. Atinge igualmente os dois géneros. É mais prevalente nos países ocidentais, mas são os países em via de desenvolvimento os que apresentam atualmente maior percentagem de novos casos. Este aumento poderá estar relacionado com a ocidentalização do estilo de vida nestes países e que se caracteriza, entre outros, por um dieta baseada em produtos pré-cozinhados e embalados e fast food. Estima-se que em Portugal existam 15 a 20 mil doentes com doença inflamatória intestinal.
A inflamação intestinal crónica da doença inflamatória intestinal resulta de uma desregulação do sistema imunitário do intestino que leva à libertação de mediadores inflamatórios. A causa precisa desta desregulação é ainda desconhecida. Pensa-se que poderá ser desencadeada por fatores ambientais em indivíduos geneticamente suscetíveis, sendo os fatores ambientais considerados mais importantes que os fatores genéticos, na maioria dos doentes. O principal fator ambiental identificado na doença de Crohn é o tabagismo.
Na colite ulcerosa ainda não se identificou o principal fator ambiental. A dieta pode ter um papel importante. A dieta pobre em fruta e vegetais e rica em proteína e gordura animais e açúcar, como o fast food, está associada a maior risco de doença inflamatória intestinal. Ao contrário, a dieta rica em fruta e vegetais, como a dieta Mediterrânica, está associada a menor risco de doença inflamatória intestinal.
O diagnóstico da doença inflamatória intestinal implica a combinação de vários exames para confirmar o diagnóstico e excluir outras doenças com sintomas semelhantes. Estes exames incluem a endoscopia digestiva, histologia (avaliação das biópsias intestinais), enterografia e/ou cápsula endoscópica.
O tratamento da doença inflamatória intestinal pode ser farmacológico e/ou cirúrgico. Apesar do desenvolvimento de vários novos fármacos para o tratamento da doença inflamatória intestinal, nenhum tratamento disponível pode curar a doença e, assim sendo, a DII implica habitualmente um tratamento crónico. A escolha do melhor tratamento depende de vários fatores como a localização e gravidade da doença e a reposta e tolerância ao tratamento instituído. Os objetivos são controlar a inflamação e os sintomas, evitar as complicações relacionadas com a doença e o tratamento e restabelecer a qualidade de vida dos doentes, o que é conseguido na maioria dos casos.
A mortalidade reduzida pela doença inflamatória intestinal aliada ao seu surgimento em idade jovem levará, nos próximos anos, a um aumento exponencial do número de doentes com consequente sobrecarga sobre o sistema de saúde. Duas estratégias são fundamentais para mitigar esse impacto: 1) prevenção da doença através da promoção de comportamentos que reduzam o risco (amamentação, dieta rica em fruta e vegetais, evicção do tabagismo e restrição do uso de antibióticos na infância); 2) tratamento mais personalizado e eficiente através de uma melhor caracterização da doença e do doente.
Autor: João Bruno Soares