Apesar de grande parte do país estar em férias, ou talvez por isso, acontecem situações que motivam a revolta ou pelo menos um mal-estar social quase coletivo. Mesmo quem entenda que somos um país de brandos costumes, começa a desesperar perante o que parece ser um abuso do direito de forma lesiva para maioria da população.
Sabemos, e os políticos não ignoram, que a economia débil e o emprego precário são fatores de instabilidade social, da mesma forma que ninguém ignora qualquer greve, sendo embora um direito, deve ser usada com ponderação pelos interessados, sejam eles sindicatos ou trabalhadores, por isso qualquer poder reivindicativo, tem também o dever de evitar o uso e abuso desse direito necessário, mas último argumento a ser utilizado.
Na verdade há situações que chocam o comum dos cidadãos, como a que foi notícia recente de aumentos mensais superiores ao salário mínimo concedido pelo governo a uma classe, criando enorme desigualdade mesmo entre cidadãos trabalhadores da administração pública.
Uma curiosidade apenas, parece que nenhum partido ou político manifestou estranheza com tal cedência do governo, apenas o senhor Presidente da República terá aconselhado prudência perante a decisão que lhe foi transmitida… a questão até pode parecer justa, mas um país com reformas e pensões de miséria, que exige mais de quarenta anos de contribuições para obter pensões inferiores ao salário mínimo, que nada garante aos privados, que recorre à Constituição por tudo e nada para falar em maior justiça social, proteção dos mais desfavorecidos, direitos e princípios fundamentais, solidariedade, igualdade e combate às desigualdades e ao favorecimento, não deve permitir-se desenvolver políticas de desigualdade entre cidadãos.
Por muito que se diga, continuamos a ser um país pequeno e pobre na Europa, que recorre com frequência ao crédito para pagar juros de dívida. O otimismo de alguns políticos não esconde a realidade e o que vai sendo notícia sobre a nossa realidade. Ninguém de bom senso entende hoje o favorecimento ou a desigualdade praticados pelos governantes em desrespeito por quem afinal paga os impostos que suportam a despesa pública.
São estes sinais preocupantes que aos poucos destroem a liberdade a democracia.
Alguém concorda que um grupo de trabalhadores possa, por exemplo, parar um país, apenas porque reivindica um aumento de salário? Acho que não. Enfim, mesmo em democracia e liberdade, não pode valer quase tudo.
Autor: J. Carlos Queiroz
Do outro lado da Linha…
DM
13 agosto 2019