Quando procuramos analisar o mundo à nossa volta, provavelmente sentimos uma imensa dificuldade em encontrar pontos de referência que nos permitam perspetivar o futuro. Do ponto de vista político, perderam-se algumas referências em termos de seriedade, conteúdo e sobriedade das lideranças. Nas democracias ocidentais, Europa e América do Norte, designadamente, a segunda metade do século vinte deu-nos a conhecer presidentes e primeiros-ministros com um elevado nível cultural e que pautavam a sua ação pela coerência, obediência a programas políticos devidamente escrutinados pela opinião pública. A própria opinião pública tinha um determinado grau de exigência para com os políticos. As pessoas liam livros, jornais, acompanhavam os acontecimentos locais, nacionais e mundiais através da rádio e dos jornais e não “embarcavam” facilmente em populismos, democracias e promessas impossíveis. No fundo, a memória da II Guerra Mundial estava ainda muito viva, com as suas causas e consequências.
Mesmo políticos posteriormente caídos em desgraça, como o antigo presidente norte-americano Richard Nixon viram as suas políticas serem aprovadas por amplos setores da sociedade e, mesmo posteriormente, reconhece-se que esteve bem e, com exceção do célebre caso Watergate que ditou a sua perda, cumpriu com o juramento que fez quando tomou posse em 20 de janeiro de 1969 e que reza “juro solenemente cumprir fielmente as funções de presidente dos Estados Unidos e, com todos os meios ao meu alcance, salvaguardar, proteger e defender a Constituição dos Estados Unidos”.
Temos saudades de estadistas como o chanceler alemão Helmut Kohl, o primeiro-ministro sueco Olof Palme, a primeira-ministra inglesa Margaret Thatcher, o presidente francês François Mitterrand e muitos outros que seria fastidioso enumerar.
Também entre nós, tivemos políticos dignos desse nome como Francisco Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa, Diogo Freitas do Amaral, Mário Soares, Aníbal Cavaco Silva e outros, com elevado sentido de Estado, responsáveis e centrados no bem comum.
Atualmente, as coisas não são assim. Por um lado, a opinião publica divide-se entre os que abominam a política e os políticos e que não acompanham minimamente a realidade política, ou apenas acompanham através das redes sociais, onde reagem com likes e emojis. Se não fosse preocupante daria vontade de rir. Perante uma notícia do género “Descoberto mais um esquema fraudulento do ex-banqueiro” colocada numa rede social, rapidamente a mesma recebe um sem número de comentários do tipo “São sempre os mesmos”, “Haviam era de ser mortos”, “ Estes gajos são do piorio”, “Inacreditável”, “Se eu roubar um pão vou preso e estes tipos fartam-se de roubar e nada lhes acontece”, e por aí fora, à mistura com emojis mostrando rostos amarelos a chorar ou irados e imagens de mãos com o dedo polegar para baixo.
Por outro lado, ao nível dos políticos, o panorama mudou muito. A par dos políticos tradicionais, ligados aos partidos tradicionais que se foram estabelecendo nas democracias contemporâneas (conservadores, liberais, sociais-democratas, socialistas, comunistas e ecologistas, designadamente), o tabuleiro político tem vindo a ser fragmentado com uma enorme oferta de propostas políticas e de novos políticos. Não seria preocupante, antes pelo contrário, se se tratasse de partidos sérios, estruturados em programas e projetos sólidos, que contribuíssem para o enriquecimento da democracia. Mas não, na sua esmagadora maioria não são mais do que chavões, meros slogans de circunstância, que aproveitam as fraquezas dos partidos tradicionais e o descontentamento popular perante o aumento da corrupção, a falência do sistema de justiça, o aumento de impostos e da insegurança ou a entrada desregulada de migrantes.
Não nos esqueçamos das palavras de Winston Churchill, antigo primeiro-ministro britânico “a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todos os outros.”
Autor: Fernando Viana