A vida nunca foi fácil. Cada um de nós tem a sua história, mas alguns têm muito mais que uma história vulgar. Haverá sempre os vencedores e os vencidos, os líderes e os seguidores, e, depois, há aquelas pessoas inspiradoras. Apesar de pouco numerosas, as pessoas mais inspiradoras são aquelas que perseguem um sonho, apesar das adversidades, conseguem fazer algo diferente e sublime. São pessoas distintas, dentro desta normalidade de sermos apenas humanos. Alfredo Quintana, recentemente falecido no início de um treino de andebol do FC Porto, é uma dessas pessoas. A sua morte foi uma verdadeira lição para todos. Um atleta de elite, jovem, um verdadeiro exemplo de atleta, com asas, com coragem, com segurança, que sucumbiu, fragilmente, a mais um ataque. O seu coração parou, mas o atleta e o seu legado ficaram. Deixou uma marca intensa e de grande qualidade. Todo o mundo desportivo, nos quatro cantos do planeta, sofreu com a perda e manifestou o respeito pelo desaparecimento das balizas deste super-atleta. Não conheci pessoalmente o Quintana, mas senti a sua perda, enquanto ser humano e exemplo desportivo, mas também me custou assistir ao sofrimento dos que com ele conviviam. Senti-me arrepiado com a alma e sinceridade das homenagens que lhe prestaram. Em todas as modalidades, em muitos clubes (mesmo nos adversários diretos), em diversos países, a dor ocupou o coração e com todo o respeito, disseram adeus, mas também que ele permanecerá na lista restrita dos “distintos”.
Outro acontecimento marcante do passado fim de semana foi a vitória do Sporting CP da Taça de Portugal em voleibol masculino. Depois de largos anos sem vencer este troféu na modalidade, o clube lisboeta venceu o seu eterno rival da capital. Um jogo extraordinariamente disputado, mas que caiu para Alvalade. No entanto, o outro facto de realce foi Miguel Maia. Aos 49 anos (fará meio século no próximo mês) conquistou mais um troféu. É um exemplo, é um jogador extraordinário, um estratega, mas que alia a simplicidade das decisões, a harmonia do movimento, a experiência da análise, a uma belíssima e longa carreira desportiva, repleta de sucesso. Eventualmente, depois de tantos troféus, o facto de ter jogado contra o seu filho, nos quartos de final, deverá ser a sua mais bela medalha de uma vida. Foi lindíssimo e arrepiante, ver o Miguel, na hora de sair do campo, serenamente, ter atravessado a rede e dar um abraço, com o verdadeiro orgulho em partilhar este marcante momento, ao seu filho. Separados pela rede, ligados a uma vida. E isto deveria ter sido exemplo após o jogo do FCPorto com a Juventus: não se maltrata um filho da terra…infelizmente, não foi assim.
O legado deixado pelo Quintana e pelo Miguel Maia, embora distintos e difíceis de serem tangíveis, têm algo de comum: a qualidade da prática desportiva e a paixão com que a revestiram ou ainda revestem. São estes exemplos que têm um forte impacto para a relevância do desporto para a humanidade e alimentam as reservas da esperança para as novas gerações.
Autor: Carlos Dias