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“Direita”, não: centro-direita é que se deve dizer). No espectro político português (tal como em muitos outros países depois da 2.ª Guerra Mundial), não há propriamente partidos de verdadeira Direita, com expressão eleitoral. Muito menos, de extrema-direita. Em contrapartida, a Esquerda radical está bem representada no PCP (normalmente entre 8 e 12%. E a extrema-esquerda, hoje muito inflaccionada, rivaliza em votos com o próprio PCP mais os Verdes. Logo, desta “pseudo-legitimidade” de que a Esquerda radical goza e a Direita radical não goza, se pode queixar esta última em Portugal (e também noutros países, p. ex., na Alemanha, Áustria, Inglaterra e França). As coisas são assim porque, por mais incrível que pareça, 75 anos depois, vivemos ainda a ressaca da Guerra Mundial de 1939-45! Os quadros mentais (e culturais, civilizacionais) são ainda influenciados pelo trauma dos campos de extermínio nazistas. Esquecendo realidades democráticas comparáveis, tais como as duas bombas atómicas sobre o Japão (meio milhão de mortos, em poucos segundos); ou os cerca de 1 milhão de mortos civis alemães dos últimos meses do conflito, obra dos tapetes de bombas incendiárias de Churchill e do célebre general inglês Harris. Isto, já para não falar de “purgas” e de “Gulagues” soviéticos, bem entendido. Ou dos 5 milhões de mortos da Revolução Cultural chinesa (anos 60).
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Contudo, lá fora, a Direita radical vai renascendo…). Passou “despercebido” nos “media”, mas há meses, na Alemanha, a extrema-direita (Alternative für Deutschland) obteve 13% dos votos nacionais e elegeu 97 deputados num total de 650! Não esquecendo que, nas presidenciais da Áustria, teve 49%. Na França chegou aos 32%. Na América ganhou, com Trump. Na Hungria é maioritária. Na Itália, a “Lega” de Salvini mais o outro grupo (“Fratelli d'Italia”) passaram os 22%. Em Inglaterra o UKIP (de Farrage) vence eleições e inspira o tão equívoco e deturpado Brexit. Na Rússia, o ajuizado Pútine acaba de vencer as presidenciais com uns bem fiáveis 76%... Além disso, há excelentes progressões na Holanda, Polónia, Finlândia, Sérbia, Dinamarca e na Bélgica do “Vlaamsblok”.
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No Portugal de 1974-75, teve lugar uma “lavagem ao cérebro” dos portugueses). A situação de pre-guerra civil criada pelo extremismo da revolução abrilista, fez com que a metade do povo que continuava a pugnar pelo “statu quo”, pelas tradições culturais e pelo conservadorismo, se apegasse aos novos partidos recém-constituídos, na área do centro (o PSD e o CDS). Os quais foram criando raízes e secando o campo à volta. Por anos e anos, qualquer agremiação que “cheirasse” a Salazarismo, tem sido fortemente discriminada e perseguida (desde o velho PDC até ao moderno PNR, de Pinto Coelho). Ainda há dias, o próprio dr. Nogueira Pinto, em longa entrevista a uma revista do JN, nem sequer mencionou o dito PNR…
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Agora é o próprio “centro-direita” que definha…). Enquanto Portas dominou o CDS, acontecia que, se as direcções do PSD eram mais “duvidosas”, o centro-direita encontrava sempre representação no mesmo CDS. Agora nem isso, como se explica a seguir.
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A dra. Cristas não parece ser a melhor escolha). Em vez dela, melhor estariam Cecília Meireles ou Nuno Melo (que era a escolha de Portas). Num 2.º plano, Lobo Xavier. Assunção Cristas (que alguns dizem “ambição” ou “presunção” Cristas) é sem duvida uma pessoa de valor, mas talvez bonita e jovem demais para liderar o partido mais à direita do espectro português. Passa por ser o veículo de que se servem algumas eminências pardas do PP para terem voz na política (João Rebelo, o dr. Castelo Branco, Mesquita Nunes, o próprio ancião Adriano Moreira, que de algum modo, já nos anos 60 “mordeu a mão” a Salazar). Cristas é especialista em traiçoeiras “falsas partidas”: antecipou-se a Nuno Melo; e depois, antecipou-se ao PSD na escolha de um candidato que fosse capaz de vencer a câmara de Lisboa. Depois dessa traição, gaba-se de ter tido, em Lisboa, 20%! E pensa que o CDS vai ter mais votos que o PSD… Pessoalmente (já o disse aqui) eu nunca votarei num CDS de Cristas; uma vez que, sem necessidade, foi ela que autorizou a barragem do rio Tua.
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E Rui Rio escolheu “bons acessores”…). Santana fez muito melhor campanha, mas a “democracia subterrânea” mais uma vez rasteirou aquele que já foi genro de Kaúlza de Arriaga (e de Jorge Jardim), esses heróis de África. Ora então: Morais Sarmento dizia que votava em Costa se Santana ganhasse; Feliciano B. Duarte derrapa em Berkeley e no Bombarral (e demite-se); o jovem Salvador Malheiro é associado a ajustes directos na câmara de Ovar; Elina Fraga, além de alegadas contas duvidosas na Ordem dos Advogados, foi uma surpresa, pois, por ser amiga de Sócrates e de Marinho Pinto, poucos sabiam que era do PSD (ressalve-se contudo que, para mim ela tinha razão ao opôr-se ao fecho de tribunais); Álvaro Amaro e Arlindo Cunha são das personagens que, no passado, mais estiveram ligadas em Portugal, ao binómio “fogo posto-eucaliptização”; o sanjoanense Castro Almeida consegue ser ainda mais sorumbático e incapaz de comunicar que Rio; e a coerência de J. Silvano avalia-se se se lembrar que ele dizia “opor-se à barragem no Tua”, mas “se a fizerem, que ao menos seja tão alta que permita que os barcos cheguem do Douro a Mirandela”…
Autor: Eduardo Tomás Alves